Através das Oliveiras marca o fim da trilogia Koker de Abbas Kiarostami e consolida sua posição de queridinho da nossa Mostra Internacional de São Paulo.
Nessa trilogia, o diretor iraniano mistura realidade e ficção e amarra brilhantemente um filme no outro. E a Vida Continua (1992) retorna à província de Guilão, onde rodou Onde Fica a Casa do Meu Amigo? (1987), para registrar como ficaram os atores após o terremoto de 1990. Depois, em Através das Oliveiras, Kiarostami conta a história de amor dos recém-casados do filme anterior.
Os efeitos do terremoto continuam visíveis por todo o lado. Ruínas, reconstrução e cemitérios com várias lápides novas fazem parte das locações onde um diretor está filmando sua nova produção. Com base nas experiências de Kiarostami durante as filmagens de E a Vida Continua, o processo começa na seleção de uma atriz não profissional entre as jovens da vila. A escolhida, porém, é a moça que se recusou a se casar com outro ator não profissional selecionado. Sem saber disso, quando o rapaz contracena com a moça, os dois travam e a cena não sai.
Sempre com uma abordagem naturalista, que até deixa em dúvida o que é encenado e o que não é, o filme mostra as várias tentativas de rodar essa cena, bem como as incursões por outros lugares para tentar encontrar uma substituta para essa atriz. A narrativa inclui, também, um flashback do rapaz revelando como ele tentou abordar a sua amada, e propor se casar com ela. Mas, por ele ser analfabeto e não ter casa, a família dela não autoriza a união.
O desfecho genial
O grande charme de Através das Oliveiras é a sequência final. Em uma última tentativa desesperada, o rapaz anda atrás da moça e tenta convencê-la a se casar com ele. No entanto, ela nem para de andar e nem responde. O último plano alcança a genialidade de Kiarostami. Em plano único, a câmera filma do alto de um morro os dois personagens, seguindo a mesma toada – ela à frente e ele alguns passos atrás insistindo em suas argumentações. Eles se afastam da câmera e não ouvimos o que eles falam.
Com a distância, eles se tornam cada vez menores na tela, dando a impressão de que o filme terminará assim. Porém, quando eles já estão minúsculos de tão longe, a moça para e fala alguma coisa para o seu apaixonado perseguidor. Este, então, parte em disparada no caminho de volta, enquanto ela segue em frente.
Não precisava nem saber nada sobre E a Vida Continua para deduzirmos que esse corrida de retorno está repleta de entusiasmo, mesmo sendo impossível enxergar as suas feições. É uma conclusão emocionante, impregnada pela felicidade universal do amor, que ganha um toque especial de esperança para um povo simples que acaba de perder amigos e parentes, e precisa ter forças para se reerguer depois do terremoto.
___________________________________________
Ficha técnica:
Através das Oliveiras | Zire darakhatan zeyton | 1994 | 103 min. | Irã, França | Direção: Abbas Kiarostami | Roteiro: Abbas Kiarostami | Elenco: Mohamad Ali Keshavarz, Farhad Kheradmand, Zarifeh Shiva, Hossein Rezai, Tahereh Ladanian, Mahbanou Darabi, Ostadvali Babaei, Babek Ahmedpoor.
