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Bacurau (filme)
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Bacurau

Avaliação:
10/10

10/10

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Crítica | Ficha técnica

Bacurau é uma alegoria sobre o Brasil num futuro próximo. A trama se passa daqui a cinco anos em uma pequena cidade no oeste pernambucano que leva o nome do título do filme.

Os moradores de Bacurau começam a ser assassinados misteriosamente. A população não sabe, mas um grupo de turistas estrangeiros está por trás dessas mortes, para praticar o esporte de caçar humanos. A fim de se defenderem da ameaça, os habitantes da cidadezinha vão atrás de um pistoleiro e sua quadrilha.

O filme é uma brilhante criação dos diretores e roteiristas Juliano Dornelles e Kleber Mendonça Filho. É uma obra que merece ser chamada de genial por permitir várias leituras.

Política

Sendo um fruto de Kleber Mendonça Filho, Bacurau pede uma interpretação política, já que o diretor não esconde suas posições contrárias ao governo atual. O filme se passa daqui a cinco anos, ou seja, logo após o fim do mandato do presidente Jair Bolsonaro. Uma das primeiras imagens mostra os personagens viajando por uma estrada esburacada. Dela se vê uma escola abandonada, uma alusão ao que o descaso com a educação provocará. A violência que permeia todo o filme também reflete a facilitação do porte de armas. E, com isso, o extremismo que pode trazer de volta as medidas desumanas de uma ditadura. Por isso, na televisão, vemos um noticiário sobre execuções públicas no Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo.

Outra leitura do filme evidencia o preconceito racial. Os estrangeiros vieram aqui para matar uma raça inferior, por isso, o casal de motoqueiros brasileiros é punido por tentar se equiparar a eles.

O viés ecológico de Bacurau equipara essa viagem turística dos gringos ao safári de caçadas na África. Mas no lugar dos animais selvagens, estão os moradores da cidade. A prática é incentivada pelo prefeito, um símbolo dos políticos que estimulam o turismo predatório no Brasil, e também a destruição da Floresta Amazônica.

Pode-se também interpretar Bacurau como uma metáfora para a destruição da cultura local, engolida pelas influências do exterior. Isso parece claro na roda de capoeira. A música típica que acompanha a dança é abafada por uma sinistra música eletrônica (que remete às trilhas sonoras do diretor John Carpenter).

Referências

O filme, então, é um amálgama de referências. Até mesmo na semente que os moradores ingerem para ficarem estimulados na hora do combate. Aliás, uma situação que se assemelha às drogas que o exército nazista ingeria durante a Segunda Guerra Mundial. O produto não é milagroso, então não consegue salvar a estrangeira que foi ferida. Ou seja, da mesma forma que os alemães não conseguiram sair vitoriosos na guerra.

E muitas referências vêm do próprio cinema. A falta de água, manipulada pelos poderosos, remete a Chinatown, de Roman Polanski, que tratava do tema na também árida Los Angeles. E Bacurau bebe muito das fontes do gênero faroeste. Não só pela paisagem deserta, enfatizada pelo widescreen e pela preferência pela captação horizontal, mas na trama que parece enredo de western. Afinal, você já deve ter assistido a um faroeste onde o povo de uma cidadezinha isolada é ameaçado e recorre à ajuda de um pistoleiro.

Especificamente quanto ao turismo que promete uma experiência única, no caso, matar outros humanos inferiores. Esse jogo lembra Westworld, filme de 1973 que virou série em 2016, contando sobre um parque que leva os visitantes ao velho oeste.

A direção recorre a recursos clássicos. As transições entre as cenas são cortes secos ou cortinas horizontais ou verticais, que lembram os antigos filmes de ação, e que George Lucas reutilizou em Star Wars, Episódio IV: Uma Nova Esperança. A colagem dos corpos assassinados, por exemplo, segue a mesma linha tradicional para narrar a estória.

Coragem

Além disso, Bacurau prova que Kleber Mendonça Filho é um diretor corajoso. Além das várias interpretações que o filme permite, ele volta a usar um coletivo de personagens, como fez em O Som ao Redor, mesmo depois de receber aclamação por Aquarius, que se concentrava em uma só protagonista. O coletivo dilui a empatia do espectador, é muito mais fácil engajar o público com um personagem principal, mas Bacurau consegue a rara proeza de fazer o espectador se solidarizar com o grupo de moradores.

Assim, Kleber Mendonça Filho, a cada filme que faz, se mostra mais hábil em entreter o público, ao mesmo tempo em que conduz a reflexões e provoca seus desafetos.

 

Bacurau (filme)
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