Bandida: A Número Um dá a oportunidade para João Wainer provar que realmente é um bom diretor, pois seu apreciado longa anterior, A Jaula (2022), é uma refilmagem. Partindo de um roteiro que se baseia no livro “A Número Um” (Casa da Palavra), de Raquel de Oliveira, seu novo filme conta a história real de Rebeca, a primeira mulher que chefiou o tráfico de drogas da favela da Rocinha.
A jornada de Rebeca começa pelo seu fim, em 1992, com sua voz gravada em uma fita cassete. Esse registro relata sua vida desde a infância (interpretada pela influencer Michely Gabriely), em 1977, quando sua mãe a abandona e a avó a vende para pagar suas dívidas ao bicheiro Amoroso (mais uma atuação camaleônica de Milhem Cortaz). Ela torna-se sua protegida, mas Rebeca (Maria Bomani na versão adulta) opta por entrar no crime quando Amoroso ascende a chefe do tráfico na Rocinha. Nas guerras entre gangues, ela permanece sempre ao lado de seu amado Pará (Jean Amorim), que alcança o posto de chefe do tráfico. Até que chega a vez de ela o suceder.
Linguagem de videoclipe
João Wainer se deixa influenciar por Cidade de Deus (2002), de Fernando Meirelles, o pioneiro em adotar uma linguagem moderna para esse mesmo tema. Coloca, por exemplo, montagens com alguns dos amigos de infância de Rebeca com flashes de quem eles seriam na gangue dos traficantes. Além disso, utiliza vários planos diversificados (alternando na mesma cena diferentes formatos de tela, alguns copiando a tela de uma televisão, granulados ou não, com filtros ou sem, cores saturadas ou dessaturadas, slow motion etc.). O objetivo não é mostrar o que está acontecendo, pois essa tarefa se torna impossível com tantos recortes, mas retratar os acontecimentos caóticos dos tiroteios, das festas funk, enfim, da vida da protagonista. A impressão que fica é de uma jornada sem controle.
Dessa forma, Bandida: A Número Um assume o formato de um longo videoclipe. Composto de imagens bem filmadas, com intenção artística de retratar a época dos eventos (anos 1980 e 1990), e montadas em sequências de planos curtos (quando a ação é uma conversa) ou curtíssimos (quando envolve tiroteios), o ritmo é quem manda, e a narrativa fica em segundo plano. Mas a voz da gravação da protagonista ajuda a contar a história, e nenhum espectador terá dificuldades de acompanhar como foi a trajetória de Rebeca. O que faz falta, porém, é a emoção de uma forte dramaturgia. A própria estrutura do enredo já deixa pistas do que vai acontecer. Então, num confronto entre policiais e traficantes, ou entre duas gangues rivais, não importa quem morre. O filme não dá nem a oportunidade de o espectador escolher para quem torcer, de se envolver com as personagens.
Tão fácil de assistir quanto um videoclipe, Bandida: A Número Um embala com seu ritmo ágil uma história com cartas marcadas. Só não provoca as emoções que deveria ao contar uma vida repleta delas. Então, o veredito sobre João Wainer fica suspenso até seu próximo filme.
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Ficha técnica:
Bandida: A Número Um | 2024 | Brasil | Direção: João Wainer | Roteiro: Patricia Andrade, Cesar Gananian, João Wainer, Thais Nunes | Elenco: Maria Bomani, Jean Amorim, Sant, João Vitor Nascimento, Jorge Hissa, Wilson Rabelo, Milhem Cortaz, MC Marechal, JP Rufino, Natália Lage, Natália Deodato, Paulo Guidelly, Jeckie Brown, Jessica Barbosa, Otto, Michely Gabriely.
Distribuição: Paris Filmes.