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Jantar com Beatriz (filme)
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Jantar com Beatriz

Avaliação:
6/10

6/10

Crítica | Ficha técnica

“Jantar com Beatriz” é um drama independente dirigido pelo experiente diretor de séries para televisão Miguel Arteta. Aqui, ele aproveita a liberdade de uma produção com orçamento menor para imprimir seu toque pessoal.

O enredo

A estória de “Jantar com Beatriz” se passa em um dia apenas. Primeiro, o filme mostra a rotina de Beatriz (Salma Hayek), desde seu despertar, ao lado de um bode de estimação, detalhe que revela visualmente sua excentricidade. Dirigindo um carro velho, ela chega ao seu local de trabalho, uma clínica de tratamento de câncer. Lá, ela aplica terapias alternativas nos pacientes, como reiki e meditação, além de distribuir uma atitude positiva. Ao final da jornada, se encaminha a uma bela residência em um condomínio de luxo, para atender sua cliente Kathy (Connie Britton).

Tudo seria parte de um dia comum em sua vida, até que seu carro enguiça. Com isso, ela não consegue ir embora, porque seu amigo que poderia ajuda-la não está disponível. Ademais, um guincho até sua distante moradia custaria caro demais. Então, Kathy a convida a ficar para o jantar, quando o marido dela receberá seu chefe e um colega do trabalho, com as respectivas esposas.

Devido a sua origem modesta e estrangeira – Beatriz é mexicana – os convidados praticamente a ignoram. Porém, ela possui personalidade forte e não esconde suas opiniões. Gradativamente, revela-se uma naturalista ativista e defende seu ponto de vista diante de Doug (John Lithgow). Ele é o inescrupuloso patrão do marido de Kathy, que constrói seu império imobiliário com empreendimentos que exploram a população local e detonam com o meio ambiente. Por fim, quando Doug conta seu prazer em caçar grandes animais em safáris na África do Sul, Beatriz não consegue se conter.

Toque autoral

O toque pessoal do diretor Miguel Arteta mencionado acima encontramos em sua habilidade em contar sem usar palavras. A excentricidade de Beatriz é mostrada com o inusitado pet dela – o bode. Mas, tem mais. Para destacar o desequilíbrio econômico e social dos personagens, as três mulheres ricas, a anfitriã e as duas esposas dos convidados, usam vestidos e saltos, enquanto Beatriz veste calça, camisa e sapato baixo. Além disso, planos médios e longos enquadram as mulheres de maneira que a diferença de estatura entre a pequena Salma Hayek e as outras atrizes fique bem clara. Em outro enquadramento interessante, a cabeça de Hayek está no centro da tela, de costas, enquanto duas outras personagens em perfil conversam entre elas, nas extremidades do quadro, como se Beatriz não estivesse ali.

A câmera se fixa em close-up no rosto de Hayek enquanto John Lithgow relata como matou um rinoceronte na África. Dessa forma, nos torna cúmplices dos pensamentos de revolta que se passam na cabeça da personagem Beatriz, sincera protetora dos animais e da natureza em geral. Aliás, uma grande interpretação da atriz mexicana, despida de seu apelo sexual natural, inesquecível em “Um Drink no Inferno” (1996). Hayek chega até a tocar, com voz e violão, a canção “Las Simples Cosas”, para tentar sensibilizar o implacável Doug.

Metáforas

No final do filme, Miguel Arteta apresenta duas cenas emblemáticas para o espectador interpretar livremente. Enquanto os anfitriões e os convidados se divertem soltando balões, sem se importarem com o risco de iniciarem um incêndio nas florestas sujeitas ao clima seco da Califórnia, Beatriz mergulha no mar, com roupa e tudo. O antagonismo de valores está simbolizado pelo fogo e pela água. Como Beatriz não consegue mudar seus opositores, precisa de um banho de mar para se limpar, depois de se expor a tanta sujeira. Para que, no dia seguinte, possa voltar a sua rotina.

O roteiro restringe a estória a praticamente um só local, e poderia se transformar em teatro filmado. No entanto, Miguel Arteta consegue fugir desse formato ao utilizar habilmente a linguagem cinematográfica. Deixou escapar, porém, um detalhe importante que coloca artificialidade na trama. Depois de explodir com Doug, Beatriz é forçada a se retirar da casa pelo anfitrião, que chama um reboque para ela poder levar seu veículo enguiçado. Até aí, uma situação natural, porém, logo depois, Kathy oferece dinheiro para Beatriz, para ela pagar o reboque, e ela recusa o pagamento. Ora, se fosse para ela pagar esse custo, ela teria ido embora logo que seu carro pifou. Criou-se, assim, uma situação artificial, que poderia ter sido evitada facilmente.

A visão crítica que está no cerne do filme “Jantar com Beatriz”, porém, consegue se manter. Espectadores que defendem o ponto de vista de Beatriz, com certeza, adorarão.

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Ficha técnica:

Jantar com Beatriz (Beatriz at Dinner, 2017) EUA, 82 min. Dir: Miguel Arteta. Rot: Mike White. Elenco: Salma Hayek, John Lithgow, Connie Britton, Jay Duplass, Amy Landecker, Chloë Sevigny, David Warshofsky, John Early, Enrique Castillo, Soledad St. Hilaire, Natalia Abelleyra.

Assista: diretor e elenco de “Beatriz at Dinner” falam sobre o filme

Onde assistir:
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