“Bob, Carol, Ted e Alice”: A sociedade pós-hippie na estreia de Paul Mazursky
O filme retrata a reação da sociedade norte-americana no final da revolucionária década de 1960, quando o movimento hippie e alternativo em geral influenciou a cultura nos grandes centros urbanos.
Bob (Robert Culp) e Carol (Natalie Wood) voltam modificados de uma experiência terapêutica em grupo. Lá viveram uma sessão catártica, em busca de autoconhecimento e de uma visão diferente sobre comportamentos. O filme ironiza a prática do casal no seu prólogo, mostrando um longo travelling filmado de um helicóptero acompanhando a chegada deles ao local sob o som de “Aleluia”. Com isso, retrata a busca pela transformação espiritual em 24 horas.
Para testar o que aprenderam, Bob e Carol praticam com o casal de amigos próximos, Ted (Elliott Gould) e Alice (Dyan Cannon). Primeiro, sugerem que sempre sejam francos, mesmo quando a verdade desagrada. Seguindo essa atitude, Bob, ao retornar de uma viagem de negócios, confessa que teve um caso enquanto esteve fora. Apesar da dificuldade inicial, Carol afirma que tem um insight e que se sente feliz que Bob tenha contado a ela, e não se o condena. Então, o casamento deles passa a ser um relacionamento aberto. Por isso, Carol também pula a cerca, e Bob acaba aceitando a muito custo.
Já Ted e Alice são mais conservadores e não embarcam tão facilmente nessa novidade. Porém, em uma viagem dos dois casais para Las Vegas, após Ted contar que fez sexo com uma estranha, Alice propõe uma orgia entre eles. Ted reluta, mas todos resolvem ir para a cama. Na famosa cena de troca de casais, o filme mostra que a cultura hippie influenciou os estadunidenses, mas eles não abraçaram completamente essa liberdade toda. Sem criticar, indica que, mesmo não conseguindo mudar radicalmente a sociedade, a experiência dos anos 60 deixou uma marca positiva.
Mazursky em tempos de mudança
Na estreia de Paul Mazursky no cinema, ele injeta muito humor neste filme fortemente social. O insight de Carol, por exemplo, possui tom humorístico, assim como a visita de Alice ao psiquiatra.
No fim dos revolucionários anos 60, a sociedade estava modificada, aberta para novas experimentações. No visual de Carol e Alice, a minissaia curtíssima comprova parte dessa mudança. Nas telas, os atores encarando a câmera quebravam uma barreira. Porém, somente até certo ponto. Enquanto os filmes europeus mostravam muita nudez, sem grandes alardes, aqui só os figurantes do instituto alternativo no início aparecem sem roupa.
Mazursky evoluiria e dirigiria “Próxima Parada, Bairro Boêmio” (Next Stop, Greenwich Village, 1976), provavelmente sua obra prima. Em seguida, abordaria a liberdade sexual novamente em “Willie e Phil – Uma Cama para Três” (Willie & Phil, 1980).
Ficha técnica:
Bob, Carol, Ted e Alice (Bob & Carol & Ted & Alice, 1969) Dir: Paul Mazursky. Rot: Paul Mazursky, Larry Tucker. Com Natalie Wood, Robert Culp, Elliott Gould, Dyan Cannon, Horst Ebersberg, Lee Bergere, Donald F. Muhich, Noble Lee Holderread Jr., K.T. Stevens, Celeste Yarnall, Lynn Borden, Linda Burton, Greg Mullavey, Andre Philippe, Diane Berghoff, Bill Cosby, Leif Garrett, Paul Mazursky, Susana Miranda.
Assista: entrevista de Paul Mazursky sobre “Bob, Carol, Ted e Alice”