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Bola de Fogo (filme)
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Bola de Fogo

Avaliação:
8/10

8/10

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Crítica | Ficha técnica

Bola de Fogo (Ball of Fire, 1941) é a terceira das grandes comédias que Howard Hawks dirigiu quase em sequência. As outras foram Levada da Breca (Bringing Up Baby, 1938) e Jejum de Amor (His Girl Friday, 1940).

Desta vez, o protagonista não é Cary Grant, mas Gary Cooper, o que já impacta no tom diferente deste filme em relação aos outros. Cooper convence mais que Grant como o quase assexuado estudioso, características do personagem principal do filme de 1938 e deste. Por outro lado, Grant funciona melhor quando encena palhaçadas. Com certeza, faria rir ao enfrentar um gangster numa luta corporal após estudar boxe num livro, uma das últimas cenas de Bola de Fogo.

Por escolha de Hawks, o ritmo de Bola de Fogo não é tão acelerado. De fato, somente na parte final a ação se torna mais forte que a encenação. É quando a grande quantidade de personagens do filme abandona o cenário principal e se movimenta geograficamente para efetivar o desfecho romântico. Nestes trechos, a sucessão de peripécias se apropria das gags visuais do cinema mudo, o que justifica o humor ingênuo do citado embate físico entre o Professor Bertram Potts (Cooper) e seu rival no amor, o gângster Joe Lilac (Dana Andrews).

Barbara Stanwyck

O improvável par romântico do professor ganha corpo em Barbara Stanwyck. Sua Sugarpuss O’Shea se equipara em força às protagonistas interpretadas por Katharine Hepburn e Rosalind Russell, das duas comédias anteriores de Hawks. Mas, Stanwyck vai além em termos de sensualidade. Dançarina de nightclubs, namorada de um gângster, Sugarpuss representa o pecado que invade o mundo assexuado e masculino dos oito solteirões (um deles divorciado) que vivem juntos há nove anos trabalhando numa nova enciclopédia. A aparente infantilidade deles fica ainda mais evidente porque uma governanta, a Miss Bragg (Kathleen Howard), cuida deles como crianças.

Essa infantilização vem da ideia dos roteiristas Charles Brackett e Billy Wilder de criarem uma versão do conto “Branca de Neve e os Sete Anões”. A maliciosa Sugarpuss O’Shea faz as vezes de uma distorcida Branca de Neve, enquanto o nada charmoso estudioso Bertram Potts é o príncipe sem encanto. E, claro, os demais sete professores do grupo compõem os anões da fábula, talvez o maior trunfo dessa comédia. Hawks costuma costurar fortes laços de companheirismo entre homens em seus filmes, e Bola de Fogo traz um dos mais belos exemplos desse elemento. Os oito professores conhecem profundamente uns aos outros, e trocam brincadeiras a partir disso. Por outro lado, apoiam o envolvimento romântico de um deles, Potts, e enfrentam até os perigosos bandidos por essa amizade.

Comédia sem pressa

Como apontado acima, Bola de Fogo não explora a agilidade das situações, apesar de ainda ser uma screwball comedy. Aqui, as longas situações devem ser apreciadas sem pressa. Os vários coadjuvantes possuem espaço na trama, e contribuem com suas características marcantes – como os professores e a governanta. O vilão Joe Lilac se mantém sempre cruel, mas seus capangas são alvos de momentos engraçados. A intenção de privilegiar o que acontece na cena ganha um clímax na dança de Barbara Stanwyck com os professores, unindo sensualidade e humor num clima inesperadamente festivo. Além disso, o filme brinda-nos com um momento sublime do talento do baterista Gene Krupa fazendo ritmo numa caixa de fósforo para Stanwyck cantar.

Enfim, Bola de Fogo é uma comédia brilhante na qual Howard Hawks prova a si mesmo que nem sempre se precisa acelerar para fazer comédia screwball.


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