O título nacional genérico tem mais a ver com a presença de Gerard Butler como protagonista do que com a trama em si. Caça Implacável dá a ideia de que se trata de mais um filme de ação do astro, desvirtuando o título original (“Last Seen Alive”, ou seja, “a última vez que foi vista com vida”), que é muito mais adequado. Afinal, o ponto de partida é esse: uma mulher desaparece enquanto o marido está colocando gasolina no carro num posto na estrada. Aliás, argumento que lembra muito O Silêncio do Lago (The Vanishing, 1993), filme com Kiefer Sutherland e Sandra Bullock.
Mas o título não é o principal problema de Caça Implacável. Acima de tudo, o filme é muito mal dirigido por Brian Goodman, um ator de segunda linha que aqui assume a direção pela terceira vez em sua carreira. O longa já começa errado, com um batido flash forward que engana o espectador, dando a impressão de que a mulher desaparecida está morta. Na verdade, o espectador experiente já intui que essa informação está errada, caso contrário, o enredo não faria sentido. Então, é ainda mais equivocada essa revelação, pois se o público confiar nela, toda a investigação do marido, que constitui o centro do filme, parecerá inútil.
Roteiro pobre de ideias
O filme, em suma, consiste nessa busca do marido pela esposa que sumiu misteriosamente. Mas o roteiro não consegue ser criativo o suficiente para elaborar uma trama interessante, repleta de reviravoltas. Pelo contrário, tudo segue numa linha reta, com o personagem principal assumindo a busca por conta própria, embora o filme não mostre que ele não confia no detetive policial encarregado do caso. Assim, sem muita explicação, ele mesmo parte sozinho em direção ao cativeiro da mulher, assumindo enfrentar sozinho os traficantes de drogas, ao invés de contar com a ajuda da polícia. Então, como o roteiro precisa criar mais cenas para que o filme tenha pelo menos 90 minutos, vários flashbacks interrompem a ação, alguns deles repetindo o que o público já entendeu.
Além disso, algumas decisões do diretor Brian Goodman comprometem esse roteiro que já é fraco. Para começar, a cena em que Will (Gerard Butler) está na casa com seus sogros é muito mal filmada. Esses atores coadjuvantes são fraquíssimos (o homem parece que está lendo suas falas de um teleprompter) e a câmera não encontra o posicionamento correto, insistindo em ficar atrás de portas ou móveis como se alguém estivesse observando. Além disso, os cortes são esquisitos, como o que traz o sogro caminhando da sala de jantar até a sala principal. Esse erro de posicionamento de câmera se repete ao longo do filme, como no plano de dentro do carro que capta Will caminhando na floresta em direção ao cativeiro. E, lá no local, há uma desnecessariamente longa sequência de planos com Will andando pelas instalações até se deparar com alguns traficantes.
Elenco desequilibrado
Gerard Butler faz seu trabalho com competência. No papel de sua esposa, está Jaimie Alexander, conhecida como a protagonista da série Ponto Cego (Blindspot) e como a Sif dos filmes do Thor da Marvel. Essa dupla não compromete, mas o mesmo não se pode dizer do elenco secundário. Russel Hornsby, que faz o Detetive Paterson, está irritantemente canastrão, fazendo caras e bocas para roubar a cena. Já os demais atores são um desastre, e tornam seus personagens muito artificiais, começando pelos sogros de Will e passando pelos vilões.
Enfim, com exceção da cena do desaparecimento, nada mais empolga nesse Caça Implacável. Um filme que surpreende por ser tão ruim, e a medida de sua inépcia está na explosão na sua conclusão, que traz aquele artificialismo que víamos em séries dos anos 1980. Mas, naquela época, o motivo era a limitação tecnológica. Aqui, é a falta de capricho.
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Ficha técnica:
Caça Implacável | Last Seen Alive | 2022 | 95 min | Direção: Brian Goodman | Roteiro: Marc Frydman | Elenco: Gerard Butler, Jaimie Alexander, Russell Hornsby, Ethan Embry, Michael Irby, Cindy Hogan.
Distribuição: Diamond, Galeria.