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Poster do filme "Calígula: O Corte Final"
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Calígula: O Corte Final

Avaliação:
6,5/10

6,5/10

Crítica | Ficha técnica

Muita polêmica acompanhou o lançamento original do filme Calígula (1979), de Tinto Brass, considerado pornográfico por suas escandalosas cenas de sexo explícito. Havia justificativa para filmar tais cenas, considerando as orgias que os imperadores romanos, no caso Tibério e Calígula, praticavam costumeiramente abusando dos escravos. Porém, o resultado tendia claramente para o sexploitation, numa década em que esse subgênero rendeu ótimas bilheterias, vide Emmanuelle (1974), com Sylvia Kristel, e A História de ‘O’ (1975), ambos dirigidos por Just Jaeckin. O próprio diretor Tinto Brass foi prolífico nesse tipo de filme, desde os anos 60. Seu lançamento anterior, Salão Kitty (1976), explorava esse filão e contava com Teresa Ann Savoy (que aqui interpreta a irmã de Calígula) num dos papéis principais.

Chega agora aos cinemas, no dia 5 de dezembro, Calígula: O Corte Final, uma nova versão do filme de 1979. Esta reedição de Bob Guccione e Franco Rossellini, produzida por Thomas Negovan, pretende se manter mais fiel ao roteiro escrito por Gore Vidal. Nesse intuito, adiciona cenas inéditas, aumentando a duração, que era de 2 horas e 36 minutos para 2 horas e 58 minutos. Dessa forma, tanto por diluir o sexploitation como por permitir mais espaço para desenvolver o personagem principal, o resultado ganha em dramaturgia.

Maldade

No entanto, a primeira parte do filme continua extremamente escandalosa. Quando o jovem Calígula (Malcolm McDowell) visita a corte do seu avô, o Imperador Tibério (Peter O’Toole), a mise-en-scène é perturbadora. Ao mesmo tempo em que o avô afirma seu desapreço em relação ao neto, este pensa num plano para assumir o posto o quanto antes. A visível maldade ao redor faz coro a esses pensamentos sórdidos. Escravos e até soldados são submetidos aos jogos de perversão e sadismo do imperador, quase tão vil quanto o seu sucessor.

Após Calígula se tornar o novo imperador, esses atos abjetos deixam de ser tão numerosos e espalhados pelo cenário para ocupar o centro de alguns trechos específicos. Determinar qual o episódio mais deplorável representa uma tarefa difícil, mas o estupro duplo do casal de noivos certamente ocupa uma das primeiras posições. Resta ainda a perversão proposital do diretor Tinto Brass para chamar mais bilheteria, como a gratuita cena do parto de Caesonia (Helen Mirren), filmada de frente para a câmera.

A produção investiu bastante em cenários, construindo reproduções gigantescas da Roma Antiga. Muitas delas apenas para uma cena específica – por exemplo, a piscina da decapitação de Macro (Guido Mannari). Porém, evitou episódios que demandariam uma reconstrução ainda mais dispendiosa, como a ponte suspensa que Calígula mandou erguer, ou as tentativas de invadir outros reinos (inclusive a Grã-Bretanha).

Loucura

Dentro do enlouquecimento de Calígula, o enredo ignora que o imperador tomou decisões acertadas no início. No filme, ele demonstra uma maldade intrínseca desde que aparece em cena, logo arquitetando encurtar a vida do seu avô Tibério. Seus desvios morais surgem logo de cara, abrindo o filme deitado incestuosamente com sua irmã Drusilla (Teresa Ann Savoy). Essa relação afeta profundamente o protagonista, tanto que o momento em que ele se descontrola e esbofeteia a irmã representa um divisor de águas em sua trajetória. Dali para a frente, seu mergulho na loucura se acelera. A morte de Drusilla, então, o leva a se perder pelas ruas, fingindo ser um qualquer no meio do povo. Quando retorna, toma decisões esdrúxulas, como fazer de seu cavalo o seu conselheiro. O desfecho disso tudo só poderia ser trágico e violento.

Com isso, Calígula: O Corte Final ganha uma consistência narrativa que o filme original deixava escapar, preocupado em focar no escandaloso. Embora não disfarce a direção descompromissada de Tinto Brass em relação a enquadramentos e movimentações da câmera, assim como quanto a fotografia, esta versão deixa de ser exclusiva para os voyeurs que buscam atores famosos em cenas explícitas.

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Ficha técnica:

Calígula: O Corte Final | Caligula: The Ultimate Cut | 2023 | 178 min | EUA, Itália | Direção: Tinto Brass | Roteiro: Gore Vidal | Elenco: Malcolm McDowell, Helen Mirren, Teresa Ann Savoy, Peter O’Toole, John Gielgud, Guido Mannari, Giancarlo Badessi, Bruno Brive, Adriana Asti, Leopoldo Trieste, Paolo Bonacelli, John Steiner, Mirella D’Angelo.

Distribuição: A2 Filmes.

Onde assistir:
Cena do filme "Calígula: O Corte Final"
Cena do filme "Calígula: O Corte Final"
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