Pesquisar
Close this search box.
Canção da Volta (filme)
[seo_header]
[seo_footer]

Canção da Volta

Avaliação:
5/10

5/10

clique no botão abaixo para ouvir o texto

Crítica | Ficha técnica

Canção da Volta mergulha nos efeitos que a tentativa de suicídio de Julia provoca em seu marido Eduardo.

O filme apresenta Eduardo chegando tarde do trabalho e encontrando em casa apenas o filho adolescente, de cerca de 17 anos, e a filha menor de 7. A mãe, Julia, não está em casa e ninguém conseguiu falar com ela durante o dia todo. Após uma busca desesperada pelas ruas de São Paulo, que inclui até o IML (Instituto Médico Legal), Eduardo acaba recebendo um telefonema e encontrando-a em um hospital. Ela tentou se suicidar.

Depois desse fato, Eduardo tenta descobrir os motivos que levaram Julia a esse ato desesperado. A depressão dela é concreta, e um dia ele precisa acudi-la quando ela tem uma crise de choro no estacionamento de um shopping. Nessa investigação, vasculha o armário dela e bisbilhota o seu celular. Descobre, assim, algo no passado dela que o deixa transtornado.

Intimista

O tema de Canção da Volta pede uma abordagem intimista. E isso está enraizado na sua produção, já que o filme é dirigido por Gustavo Rosa de Moura, marido da atriz principal, Marina Person. Até nos cenários, pois a principal locação é o próprio apartamento do casal. Acrescente a isso o estilo da direção de Moura, em sua estreia em longa-metragem de ficção. A imagem sem granulações traz o aspecto digital que lembra filmes caseiros atuais, e o uso do apartamento força a proximidade dos atores da câmera, devido à falta de recuo nesse cenário não construído em estúdio. Os closes fechados continuam em outras cenas, como nas tomadas dentro do carro, ou mesmo nas cenas de sexo.

O filme é enigmático, não entrega as soluções com total clareza. Não se pode ter certeza se isso é intencional, porque o som atrapalha a audição de algumas falas. Na cena em que Julia liga sem querer para Eduardo e ele a ouve conversando com um homem, não é possível ouvir nitidamente o que está se passando, e, aparentemente, é um momento crucial para o filme, porque Eduardo fica imediatamente abalado e não consegue realizar seu trabalho como entrevistador.

Aparentemente, Eduardo descobre segredos do passado de Julia, e indícios de esquizofrenia. Por isso, questiona agressivamente quantas pessoas existem dentro dela. Porém, nada disso é revelado ao espectador, que fica frustrado por isso.

Descoberta

O que Canção da Volta deixa mais evidente é que Eduardo também tem um problema. Desde a primeira aparição do personagem, o filme entrega uma pista de que ele tem TOC (transtorno obsessivo compulsivo). Logo que ele entra em seu apartamento, ele endireita um quadro na parede. Mais adiante, isso é revelado concretamente, quando ele fica vários minutos tentando arrumar o lustre da sala de jantar. Esse distúrbio se torna mais grave com a tentativa de suicídio de sua esposa, que o leva à obsessão de controlá-la, e se transforma em ciúme doentio. Talvez a tentativa de suicídio tenha sido até provocada pela obsessão do marido, mas o filme não apresenta essa hipótese.

Canção da Volta tenta construir uma realidade para depois desconstrui-la. Introduz Julia como uma pessoa problemática, mas quem realmente é o verdadeiro doente é Eduardo. Essa ideia se reflete no ciúme de Eduardo quando na verdade ele próprio tem um caso com sua estagiária.

A ambientação intimista se encaixa com o tema, e as atuações se beneficiam dela, apresentando emoções que parecem vir de dentro dos atores, que as expressam sem necessidade de falar sobre elas. Porém, Canção da Volta se perde nesse hermetismo. Revelar se o que o marido descobriu justifica seu comportamento descontrolado é essencial para o espectador, mas essa informação fica oculta.


Canção da Volta (filme)
Compartilhe esse texto:

Críticas novas:

Rolar para o topo