O filme sul-coreano Canola surpreende por adotar tons distintos em sua inteligente e emotiva narrativa.
A sua parte inicial acompanha o feliz relacionamento entre uma senhora e sua neta Hye-ji. A menina, de uns seis anos, perdeu o pai, e a mãe a abandonou. Para sua vó, longe de ser um fardo, Hye-ji é a sua alegria, a sua razão de viver. Com ela, gasta o suado dinheiro que ganha como mergulhadora. Porém, Canola encerra sua abordagem ingênua, próxima de um filme infantil, após Hye-jin sumir durante um dia de compras na feira com a avó.
Mudança de tom
A trama retoma doze anos depois, num tom sombrio. A jovem Hye-jin está envolvida em pequenos furtos e anda na companhia de uma dupla de golpistas. Depois de se envolver em um crime, a moça vê um aviso de desaparecimento de uma menina chamada Hye-jin, que pode ser ela. Então, logo Hye-jin e a senhora da parte inicial se encontram, mas, a retomada do vínculo será gradual. Além do fato de Hye-jin agora ser uma adulta, sua vida marginal gera dificuldades de se adequar à pacata vida na cidade pesqueira.
O filme ainda reserva outra grande surpresa, costurando uma trama bem amarrada que se resolve com a exaltação do amor incondicional. De fato, a parte final de Canola arrebata a emotividade do púbico, valorizando o melhor do ser humano, mesmo após as decepções.
E, uma cena especialmente tocante capta o instante de iluminação da avó. A provocação se origina no quadro que Hye-jin pinta, que permite a avó compreender que teve a benção de criar não só uma, mas duas netas. Como símbolo desse entendimento, o desenho que a neta produziu quando criança agora possui os cabelos dourados. Ou seja, tal como o flashback mostrara pouco antes, isso significa que, através da Hye-jin adulta, a netinha reencontrou sua avó.
Por outro lado, o filme se aproxima da pintura. Não só por causa do talento nato que Hye-jin desenvolve com a ajuda de um professor. Mas, também, pelas belíssimas imagens, principalmente aquelas com as flores amarelas nos campos de canola.
Além disso, destaca-se a impressionante interpretação de Yuh-Jung Young, a atriz que ganhou o Oscar de coadjuvante por Minari (2020).
À primeira vista, Canola parece ser um filme leve demais, quase uma produção voltada ao público infanto-juvenil. Contudo, sua trama surpreende e emociona.
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Ficha técnica:
Canola | Canola | 2016 | Coréia do Sul | 117 min | Direção: Houng-Seung Yoon | Elenco: Go-eun Kim, Yuh-Jung Youn, Hee-won Kim, Jun-Yeol Ryu, Minho Choi, Moon-Sung Shin, Min-Ji Park, Eun-Jeong Sin, Ik-joon Yang.