A época é 1950 e o homossexualismo ainda é tabu em Nova York. Por isso, Carol (Cate Blanchett) sofre. Casou-se com Harge (Kyle Chandler) quando já sabia de sua predileção sexual. Tiveram uma filha, que agora se tornou o elo de discórdia para uma separação, porque Carol está apaixonada por Therese (Rooney Mara), mas viver esse amor pode significar perder a filha.
O filme do diretor Todd Haynes, de “Não Estou Lá” (I’m Not There, 2007), biografia de Bob Dylan também estrelada por Cate Blanchett, utiliza expressivamente as cores para simbolizar o relacionamento entre Carol e Therese. A amante mais experiente veste verde, principalmente em tons musgo. A princípio, Therese usa roupas vermelhas, mas conforme sua paixão por Carol aumenta, as cores mudam. Nos cenários, o verde se torna cada vez mais constante. Aliás, em certo momento, Therese repinta seu apartamento com essa cor, declarando subliminarmente aos espectadores que Carol a conquistou em definitivo.
De fato, na trama ela rompe um antigo relacionamento para dar vazão a seus sentimentos por ela. Mesmo quando há uma separação, um chapéu verde denuncia em quem Therese está pensando. Em cena emblemática, vemos a filha de Carol, vestindo verde, comprovando quão forte é o relacionamento das duas. Assim também com Abby, sua ex-namorada e agora melhor amiga.
Cate e Rooney
Cate Blanchett demonstra uma força interpretativa imensa vivendo uma personagem que controla suas emoções para não pôr tudo a perder. A atriz não grita, não “dá piti”, mas expressa assim mesmo uma angústia enorme ao abdicar seus desejos para manter a possibilidade de ver sua filha. E ainda se entrega em uma bela cena de amor com sua parceira, filmada com muito bom gosto, mas que não deixa de ser picante.
Igualmente, Rooney Mara até surpreende como a delicada Therese, jovem ainda inexperiente que se deixa encantar por Carol, sofrendo por isso em algumas sequências do filme. Para quem se lembra dela como a Lisbeth Salander da versão americana de “Millennium: A Garota na Teia de Aranha” (The Girl in the Spider’s Web, 2018), chega a ser espantosa sua transformação física e mental para essa personagem tão distinta. Na cena de amor, ela e Blanchett se beijam, mas é somente Mara que aparece nua. Prevaleceu, claramente, o poder da atriz mais famosa. Mara esteve recentemente no Brasil, onde filmou “Trash: A Esperança Vem do Lixo” (Trash, 2014).
“Carol” revela com sua história o drama vivido por uma pioneira em assumir corajosamente suas vontades, colocando na balança o amor de mãe e o de companheira. O fato, baseado no livro “The Price of Salt”, de Patricia Highsmith, ganha nas telas o tom exato dessa angústia, sem extrapolar para o melodrama choroso. Por mais duras que fossem as consequências, Carol, a personagem, resignou-se em aceitá-las, descartando uma vida de aparências. Um filme consistente que utiliza os recursos cinematográficos em prol de sua narrativa, como a câmera na mão para caracterizar o estado emocional da personagem.
Ficha técnica:
Carol (Carol, 2015) 118 min. Dir: Todd Haynes. Rot: Phyllis Nagy. Com Cate Blanchett, Rooney Mara, Kyle Chandler, Jake Lacy, Sarah Paulson, John Magaro, Cory Michael Smith, Kevin Crowley, Nik Pajic, Carrie Brownstein, Trent Rowland, Sadie Reim, KK Reim, Amy Warner, Michael Haney.