Várias coisas incomodam em Cemitério Maldito: A Origem (Pet Sematary: Bloodlines), novo filme baseado no livro de Stephen King, feito para a Paramount+.
A linha narrativa principal do enredo não descreve as origens da maldição, estas entram num intrusivo flashback que remonta ao tempo dos pioneiros da América. O centro da trama acontece nos anos 1960, quando o inconformado Bill Baterman (David Duchovny) enterra seu filho Timmy (Jack Mulhern), morto na Guerra do Vietnã, no solo sagrado indígena, já sabendo das consequências. O jovem retorna à vida transformado, sedento de vingança contra os que escaparam de ir para a guerra. Os dois alvos principais são seus amigos de infância Judson Crandall (Jackson White) e Manny Rivers (Forrest Goodluck).
As maiores críticas negativas contra o filme se concentram em seu roteiro. Em muitos pontos, a trama se afasta do material original de Stephen King, e outros simplesmente não fazem sentido. Uma questão crucial é essa da busca pela vingança, pois o morto vivo não deveria ter essa consciência. Nem capacidade de falar quase normalmente em alguns momentos (mas nem sempre, o que deixa esse detalhe ainda mais inconsistente). Além disso, os pais dos rapazes, e alguns outros moradores, conhecem sobre a maldição, então não precisava que os jovens descobrissem o segredo num antigo livro deixado na igreja. De fato, esse fato serve apenas para dar abertura para o flashback com os pioneiros. Que dizer, então, do cachorro ressuscitado que aparece em cena sem que o filme explique quando e por que ele foi enterrado no cemitério sagrado? Por fim, por que Timmy decide enterrar a irmã de Manny?
Personagens fracos em ação
Considere, também, que nenhum dos personagens, em especial os protagonistas jovens, consegue conquistar a empatia do público. Por isso, fica difícil torcer por eles nos momentos de apuro. Faz falta uma backstory para construir esse sentimento. Poderia ser um flashback da infância desses companheiros jurando serem amigos para a vida toda, ou outro clichê (ou não) que funcionasse nesse sentido.
Pelo menos, Cemitério Maldito: A Origem é bem movimentado. Assim, o filme pode ser inconsistente, mas não entediante. E tem a participação de vários atores veteranos (Henry Thomas, David Duchovny, Samantha Mathis, Pam Grier). Porém, tende mais para a ação do que para o terror. Recursos como vozes sussurrando no mato, nojeiras como os mortos vivos comento vísceras, ou jump scares ineficientes não conseguem assustar. O máximo que o longa atinge é a mistura de terror e ação que marcou a parte final de Rambo: Até o Fim (Rambo: Last Blood, 2019), de Adrian Grunberg. Dois filmes que lidam com material já visto antes no cinema e que não vão muito além da mediocridade. Esses dois casos deveriam seguir o lema deste filme: “Sometimes, dead is better.” (“Às vezes, morto é melhor.”).
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Ficha técnica:
Cemitério Maldito: A Origem | Pet Sematary: Bloodlines | 2023 | 87 min | EUA | Direção: Lindsey Anderson Beer | Roteiro: Lindsay Anderson Beer, Jeff Buhler | Elenco: Jackson White, Natalie Alyn Lind, Forrest Goodluck, Isabella LaBlanc, Henry Thomas, Jack Mulhern, David Duchovny, Samantha Mathis, Pam Grier.