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Chamas que não se apagam (filme)
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Chamas Que Não Se Apagam

Avaliação:
7/10

7/10

Crítica | Ficha técnica

Chamas Que Não Se Apagam (There’s Always Tomorrow) é muito mais um melodrama do que um romance. Um filme genuinamente sirkiano, no qual o amor se torna impossível por convenções sociais. Esse tema se repete em outros memoráveis clássicos de Douglas Sirk. Por exemplo, em Tudo Que o Céu Permite (All That Heaven Allows, 1955), com o amor entre uma viúva de alta classe (Jane Wyman) e um jardineiro mais jovem (Rock Hudson). Ou, então, em Palavras ao Vento (Written on the Wind, 1956), no qual o mesmo Hudson ama Lauren Bacall, que se casou com seu melhor amigo.

O protagonista de Chamas Que Não Se Apagam, Clifford Groves (Fred MacMurray), é o dono de uma pequena fábrica de brinquedos. Na verdade, ele ama sua esposa Marion (Joan Bennett), mas sente que perdeu a atenção dela para os três filhos, o mais velho já perto da idade adulta. Clifford faz planos de sair para jantar e viajar com ela, só o casal, mas ela nunca está disponível porque precisa exercer o papel de mãe. Nisso, ele reencontra uma antiga amiga, Norma Miller Vale (Barbara Stanwyck), que continua solteira e se tornou uma empreendedora de sucesso. Os dois se divertem bastante quando se veem, mas o filho de Clifford vê a relação com malícia. Por isso, Norma decide evitar que algo mais sério surja entre ela e o velho amigo.

Casamento que aprisiona

Muito à frente do seu tempo, o filme discute o papel da mulher na sociedade. Se neste século ainda muitos insistem que a responsabilidade de cuidar dos filhos é exclusiva da mãe, imagine então como era na década de 1950. Com certeza, a plateia assistiu ao filme nos cinemas com um viés de condenação a Norma e de aprovação a Marion. Ou seja, a balança pesava contra Clifford. Como ele não via que a esposa era uma dedicada mãe, merecedora de todo elogio? O peso desse julgamento conduz a trama a um melodrama, afastando o romance proibido. A própria Norma decide se afastar, para não acabar com o casamento feliz do amado.

Mas, essa é apenas a interpretação superficial, que Douglas Sirk provavelmente sabia que a maioria do público da época seguiria. No entanto, e hoje isso fica ainda mais evidente, a verdade está na perspectiva de Clifford. Refém das convenções sociais, ele se sente infeliz, porque ainda quer sentir a paixão que tem pela esposa, mas esta o ignora. Nesse sentido, há uma mensagem visual recorrente desse protagonista enquadrado atrás de barras (de móveis, de grades de escada, etc.), simbolizando o casamento que o aprisiona, que sufoca suas vontades. Da mesma forma, Norma também é vista atrás de grades, já que ela não pode ir atrás dessa paixão que ressurge, algo que seu empreendedorismo precoce (para sua geração) impediu.

No entanto, a imagem mais emblemática é aquela com o robô de brinquedo em primeiro plano, e Clifford com Norma ao fundo. Assim como o marido, tudo o que o robozinho faz é falar e se mexer quando lhe dão corda, ou seja, um autômato sem vontade própria.

Machismo

O filme coloca o machismo como principal responsável por essa situação. Afinal, é o filho de Clifford quem suspeita que seu pai tem um caso, e ele ainda faz a cabeça de sua irmã adolescente. Mas, sua namorada repudia a ideia, ao que ele retruca como um típico machista. Enquanto isso, a esposa Marion se condiciona a seu papel de mãe com orgulho, porque assim a sociedade a enxergará com bons olhos. E, de forma similar, Norma abdica do amor de Clifford não só porque não quer colocar em risco o casamento feliz, mas também porque parece pensar que não poderia exigir o melhor dos dois mundos (o sucesso na carreira e o amor de sua vida).

Enfim, enquanto o título brasileiro indica claramente uma paixão do passado, ou mesmo a paixão em geral que Clifford não quer deixar de sentir, o nome original (“Sempre Haverá Amanhã”) evidencia um cinismo. Afinal, na realidade, não haverá futuro para o amor entre Clifford e Norma. Cinismo que estampa, igualmente, a frase que encerra o filme, da filhinha caçula que diz sobre os pais: “Eles formam um lindo casal”.

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Ficha técnica:

Chamas Que Não Se Apagam | There’s Always Tomorrow | 1955 | 84 min | EUA | Direção: Douglas Sirk | Roteiro: Bernard C. Schoenfeld | Elenco: Barbara Stanwyck, Fred MacMurray, Joan Bennett, William Reynolds, Pat Crowley, Gigi Perreau, Jane Darwell, Race Gentry, Myrna Hansen, Judy Nugent.

Chamas que não se apagam (filme)
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