O diretor australiano Phillip Noyce despontou com o thriller Terror a Bordo (1989), que o lançou internacionalmente, junto com a protagonista Nicole Kidman. Nos Estados Unidos, Noyce assumiu filmes de grande bilheteria, como Invasão de Privacidade (1993), Perigo Real e Imediato (1994) e O Colecionador de Ossos (1999). Porém, dividido entre o cinema e a televisão, nesse século o diretor emplacou apenas Salt (2010), e acabou relegado a filmes B, como esse Charlie em Ação.
Como atrativo, o filme traz no papel principal Pierce Brosnan, que encarnou o James Bond em quatro filmes entre 1995 e 2002. Além dele, o longa conta com o apelo da atriz Morena Baccarin, estrela limitada de filmes de ação que consegue papeis em produções grandes – por exemplo, interpretando Vanessa, a namorada do Deadpool. Contudo, em termos de história do cinema, a presença mais importante em Charlie em Ação é a do veterano James Caan, em seu penúltimo trabalho.
Roteiro
O filme, porém, é bem fraco, principalmente por causa do roteiro, escrito pelo também veterano Richard Wenk com base no livro “Gun Monkeys” de Victor Gischler. O enredo trabalha a batida premissa do matador de aluguel, Charlie Swift (Pierce Brosnan) que quer fazer seus últimos trabalhos para se aposentar. Não é surpresa que as coisas se complicam e ele se vê metido numa enrascada. Desta vez, porque um novo chefão do crime quer assumir a posição do seu chefe, Stan Mullen (James Caan). No meio dessa guerra pelo poder, Charlie resolve ajudar a ex-mulher da sua última vítima, Marcie Kramer (Morena Baccarin).
Uma das tolices dessa trama envolve um novo parceiro de Charlie, que exagera e explode a cabeça do homem que eles deviam matar. Então, para que o mandante do crime possa reconhecer a vítima, Charlie resolve tatuar em um outro cadáver (sem revelar aqui quem é para evitar o spoiler) o desenho que o decapitado tinha nas nádegas.
Direção
Phillip Noyce consegue piorar esse roteiro com uma direção sem inspiração. Abre o filme com um flash forward, mania do cinema desse século que já se desgastou. Nesse prólogo, Charlie faz uma narração sarcástica sobre a situação de perigo que encerra essa cena. Estranhamente, quando o enredo retoma esse trecho, ouve-se a mesma narração, palavra por palavra, o que soa totalmente desnecessário.
Quando a trama começa de fato entra nova narração que já revela que Charlie é um matador profissional. Mais interessante seria apresentar esse fato através de imagens, mas a direção preferiu essa solução simplória. Noyce parece preocupado em entregar tudo bem mastigado para o espectador, o que fica evidente em outros momentos, como alguns flashbacks desnecessários ilustrando o que o diálogo já explica. Sem contar, ainda, que utiliza muitos enquadramentos feios – nesse quesito, ele só acerta quando fica no básico.
O talvez único bom momento de direção é a cena em que Charlie fica escondido no duto da lavanderia de um edifício. Nesse trecho, Noyce consegue filmar o ator, deixando evidente o que está acontecendo, a despeito do espaço apertado. E, assim, extrai um pouco de suspense nesse filme que é, no geral, monótono.
Charlie em Ação fica disponível em streaming no Adrenalina Pura a partir de 1º de janeiro de 2025.
___________________________________________
Ficha técnica:
Charlie em Ação | Fast Charlie | 2023 | 90 min. | EUA, Reino Unido | Direção: Phillip Noyce | Roteiro: Richard Wenk | Elenco: Pierce Brosnan, Morena Baccarin, James Caan, Gbenga Akinnagbe, Christopher Matthew Cook, David Chattam, Toby Huss, Fredic Lehne, Sharon Gless, Susan Gallagher.