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Charuto de Mel (filme)
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Charuto de Mel

Avaliação:
6/10

6/10

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Crítica | Ficha técnica

Charuto de Mel (Cigare au Mie, 2020) trata, primordialmente, do amadurecimento de sua protagonista de 17 anos. Mas, também, do empoderamento feminino, da política na Argélia, de tradições. Temas interessantes, que despertam a atenção do espectador, mas que não se desenvolvem nem se concluem satisfatoriamente no filme.

A protagonista Selma possui o charme de quem não sabe, mas quer descobrir. Ao ingressar numa escola técnica de administração, percebe que sua criação pelos pais argelinos a deixou atrasada em relação à juventude parisiense. Apesar de nascida na França, ela se orgulha de suas origens. Porém, descobre que isso se torna chacota entre os novos amigos da escola, que a veem como uma virgem, que nada sabe sobre sexo por causa da religião muçulmana. Por isso, entra no jogo dos rapazes e finge ser mais experiente do que é, e permite algumas intimidades com um paquera, Julien. Contudo, em casa, o pai replica o rigor dos seus antepassados, e não tolera que a filha chegue tarde à noite.

Sexo

O sexo ganha prioridade entre as questões da vida de Selma, no recorte que cobre o período de 1993 e 1994. No filme, esse se torna o ponto que o enredo mais trabalha. Assim, para se livrar da virgindade, antes que Julien ou outro rapaz descubra sua inexperiência, Selma usa um pepino para romper o seu hímen. O procedimento, doloroso, acontece debaixo das cobertas, e não tem nada de prazeroso. Assim como o estupro de Selma por um rapaz que seus pais apresentam como um promissor marido.

Nesse ponto, estranha que a garota, que vimos como uma contestadora firme sobre política e sobre o papel da mulher, guarde segredo sobre o assédio que sofreu. Tal fato ilustraria claramente o erro dos pais em buscar um casamento para a filha, além de ser prova de que a proteção excessiva do pai é inútil. Afinal, o estupro não é relevado como algo sem importância, tanto que Selma tenta se livrar desse trauma quando transa com Julien na parte final da história. E o filme não deixa claro se ela consegue.

Selma tem orgulho de ser filha de argelinos. Porém, concorda com o pai sobre o fato de que a Argélia se tornou um país perigoso por causa dos ataques islâmicos. A mãe pensa diferente, mas o filme não explica o motivo de a mãe resolver deixar seu papel de dona de casa no bairro de classe média alta de Neuilly-sur-Seine, para se instalar em Argel e montar uma clínica de ginecologia. Afinal, apesar de seu idealismo sobre a supremacia do povo diante das ameaças islâmicas, ela concordava em arrumar um marido para Selma, reduzindo o papel da mulher dentro da sociedade.

A protagonista Selma

Em contraponto, Selma sempre defendeu o empoderamento feminino e brigou contra o casamento arranjado. Por isso, parece um contrassenso ela não apoiar a decisão da mãe em montar a clínica na Argélia. Salvo se a intenção da diretora e roteirista estreante Kamir Aïnouz fosse desenhar a protagonista como uma pessoa inconsistente, cujo discurso não se encaixa com suas práticas. O que, certamente, não era pretendido.

No papel de Selma está Zoé Adjani, a jovem sobrinha de Isabelle Adjani que demonstra forte presença na tela. Nesse quesito, a diretora acerta ao concentrar a câmera em seu rosto, mesmo nas cenas de sexo, captando assim a expressividade da atriz que revela muito de sua personagem. Sob esse aspecto, Charuto de Mel encanta o espectador com um sensível olhar sobre a vida da protagonista num ponto crucial de sua vida. Aliada à interpretação de Zoé Adjani, que reflete sinceridade, Selma parece autêntica. Com isso, a percepção de desnorteamento que notamos no filme se torna até elemento que dá vitalidade à história. Ou seja, se ela não sabe o que fazer após o estupro, ou como reagir diante da decisão da mãe, é porque ela ainda está amadurecendo.    


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