Cidade; Campo apresenta duas histórias opostas.
Cidade
Na primeira, Joana (Fernanda Vianna) migra para São Paulo depois que uma barragem destruiu a sua cidade em Minas Gerais. Vem para morar com sua irmã, e tenta reconstruir a sua vida a partir do zero. O primeiro passo é trabalhar como diarista por aplicativo. Sua vida vai entrando nos eixos. O trabalho lhe traz boas e más experiências, pequenas alegrias como as novas amizades, e em casa um laço forte surge com seu sobrinho. Mas, sonhos com o seu cavalo branco que morreu no desastre a lembram que o seu lugar não é na cidade.
A diretora e roteirista Juliana Rojas constrói esse segmento do filme procurando o naturalismo. Mostra as ruas da capital paulista, usa poucos planos, predominantemente com a câmera fixa e sem trilha musical. A música que surge, durante um retorno para casa de ônibus, é sombria, e abre espaço para a pequena dose de fantasia, nas visões com os animais rurais.
O retrato é potente em sua autenticidade. Joana representa a individualização da dor que o Brasil inteiro sentiu por aqueles que perderam tudo no desastre da barragem de Brumadinho.
Campo
A segunda história de Cidade; Campo se passa no interior do Brasil. Flavia (Mirella Façanha) faz o movimento inverso de Joana. Vai da cidade para o campo, retornando para a fazenda onde foi criada. Seu pai acaba de morrer, e ela pretende assumir o seu lugar e viver ali com sua esposa Mara (Bruna Linzmeyer).
Reencontramos nesse segundo segmento a diretora Juliana Rojas de As Boas Maneiras (2017). Novamente, ela mergulha de cabeça no universo fantástico, desta vez resgatando a origem indígena que está na raiz de tantos brasileiros. Nesse sentido, não fica só na aparição do pai, que poderia ser uma lembrança como a do cavalo branco na primeira história deste longa. Vai além, e encosta no terror ao trazer animais selvagens para a trama, numa analogia fácil. Tudo começa com uma bebida alucinógena oferecida pela amiga do pai que visita a fazenda, abrindo assim as portas para o misticismo que ele abraçava.
Portanto, agora a chave não é mais o naturalismo. Além da via fantástica, tem a poética. O filme se solta numa longa cena romântica regada a música sertaneja, que flui até o ousado ato sexual – repetindo o que estava no citado longa anterior de Rojas.
Cidade x campo
Essas duas histórias, assim, se contrastam. A primeira acontece na cidade e preza o realismo. A segunda, no campo, mergulha na poesia fantástica. Na valorização, esse filme urbano possui uma força imensamente superior a esse rural.
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Ficha técnica:
Cidade; Campo | 2024 | 119 min | Brasil | Direção: Juliana Rojas | Roteiro: Juliana Rojas | Elenco: Fernanda Vianna, Mirella Façanha, Bruna Linzmeyer, Andrea Marquee, Preta Ferreira, Marcos de Andrade, Nilcéia Vicente, Kalleb Oliveira.
Distribuição: Vitrine Filmes (Sessão Vitrine Petrobras).