A descoberta da homossexualidade por Léo e Remi, dois meninos na entrada da adolescência, é o tema do longa belga Close, de Lukas Dhont, concorrente ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Nos tempos que correm, tal indicação pode dar a entender que o filme é uma baboseira comercial ou uma lacração oportunista. Felizmente, Close está em outra classe, ainda que tenha limitações evidentes.
Sempre juntos, recebendo o carinho dos pais de Remi como se fossem irmãos, dividindo a mesma cama e indo juntos à escola, o amor entre eles é bonito de ver. Não precisa ser nomeado tão cedo, eles mesmos parecem não entender direito o que é, embora se perceba pelo olhar que existe alguma atração física.
Mas o preconceito é muito forte e os afeta. Depois que uma amiga da escola diz que os vê como um casal, Léo passa a ser mais agressivo, chegando a procurar um afastamento, mais por obrigação de pertencimento ao grupo do que por vontade própria. Numa cena das mais tocantes, ele abandona a cama que dividia com Remi e vai dormir num colchão sobre o chão. Quando Remi se aproxima dele, Léo tenta expulsá-lo. A briga de brincadeira vira briga de verdade. Remi acusa o golpe e se afasta, após chorar discreta e disfarçadamente no café da manhã.
Eles se reaproximam, mas não é fácil retomar uma relação após uma quebra de confiança e cumplicidade. Léo parece menos decidido a enfrentar o preconceito da turma do que Remi. Ele se inscreve na equipe de hockey no gelo e procura conversar sobre futebol com outros garotos, embora nunca perca Remi de vista. Mas o coração partido pode levar um jovem ao desespero, e Remi tem sua entrada na adolescência interrompida antes de atingirmos a metade do filme.
A falta de uma direção mais inteligente
Anos atrás, em São Paulo, uma menina de 13 anos se jogou do alto de um prédio porque os pais não a deixaram ir a um show de rock. O que impele essas crianças a cometerem atitudes tão drásticas? O que as leva a dar uma lição naqueles que a amavam, transformando suas vidas em remorso e culpa?
O filme passa a acompanhar mais de perto a angústia de Léo, que terá de amadurecer com a culpa de ter causado, com sua rejeição tola, a morte do melhor amigo.
Close seria melhor se tivesse uma câmera mais pensada, que valorizasse as atuações e olhares, e uma trilha sonora que não fosse tão genérica, com elevações em momentos específicos e melodias que parecem ser de inúmeros outros filmes.
Por falar em atuações e olhares, a atuação de Gustav De Waele, no papel de Remi, é boa, mas Eden Dambrine, ator que interpreta Léo, impressiona ainda mais, tanto pelos olhares quanto pela tentativa de conter as emoções quando percebemos que está prestes a explodir. Essa atuação precisava ser valorizada por uma direção mais inteligente.
Texto escrito pelo crítico e professor de cinema Sérgio Alpendre, especialmente para o Leitura Fílmica.
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Ficha técnica:
Close | 2022 | 104 min | Bélgica, Países Baixos, França | Direção: Lukas Dhont | Roteiro: Lukas Dhont, Angelo Tijssens | Elenco: Eden Dambrine, Gustav De Waele, Émilie Dequenne, Léa Drucker, Igor van Dessel, Kevin Janssens.
Distribuição: O2 Play / MUBI.