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CONFIRA OS VENCEDORES DO FESTIVAL É TUDO VERDADE DE 2020

Libelu (filme)

No domingo, dia 4 de outubro, o É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários, divulgou os vencedores de sua 25ª edição.

Este que é o principal evento dedicado à cultura do filme não-ficcional na América Latina qualifica automaticamente as produções vencedoras nas competições brasileira e internacional de Longas/Médias-Metragens e de Curtas-Metragens para inscrição direta visando a disputa dos Oscars® para melhor documentário de longa-metragem e de documentário de curta-metragem.

“As premiações destacam, em narrativas inovadoras e distintas, uma nova geração de documentaristas e a força do cinema do real no combate à opressão em suas várias formas, passadas e presentes”, afirma Amir Labaki, diretor do festival. “Celebre-se ainda a marcante presença de nada menos que cinco diretoras na lista das distinções, reafirmando a hora e a vez do cinema das mulheres”.

O vencedor da Competição Brasileira de Longas ou Médias-Metragens é o filme Libelu – Abaixo a Ditadur(foto), filme do diretor estreante Diógenes Muniz. O filme focaliza uma tendência estudantil universitária surgida em 1976 que, impulsionada por uma organização clandestina, chamada de Libelu (Liberdade e Luta), ganhou fama por ser o primeiro a retomar o mote “abaixo a ditadura” enquanto o AI-5 ainda vigorava. Para o júri formado pelo escritor Ignácio de Loyola Brandão, pela cineasta e roteirista Cristiana Grumbach e pelo cineasta e curador Francisco Cesar Filho, o longa-metragem toca “em uma ferida nunca cicatrizada da esquerda brasileira“.

Receberam menções honrosas os documentários Segredos de Putumayo, de Aurélio MIchiles, sobre Roger Casement (1864-1916), considerado como o pai dos inquéritos sobre a violação de direitos humanos, e Fico Te Devendo Uma Carta Sobre o Brasil, de Carol Benjamin, sobre três gerações de uma família atravessada pela ditadura civil-militar brasileira.

Filhas de Lavadeiras, de Edileuza Penha de Souza, foi escolhido pelo mesmo júri como melhor curta-metragem brasileiro. O filme narra histórias de mulheres negras que, graças ao trabalho árduo de suas mães, puderam ir para a escola e refazer os caminhos trilhados por suas antecessoras.

Foi concedida, ainda, uma menção honrosa a Ver a China, curta de Amanda Carvalho que registra uma realizadora estrangeira em visita à China para produzir um documentário sobre a produção de chá na província de Fujian.

Na Competição Internacional de Longas ou Médias-Metragens, o vencedor foi a coprodução da Romênia e Luxemburgo Colectiv, dirigida por Alexander Nanau. O filme aborda a corrupção no sistema de saúde da Romênia. O júri da competição foi formado pela diretora-emérita da International Documentary Association, Betsy McLane, pelo presidente e diretor-executivo do Hot Docs Canadian Festival, Chris McDonald, e pelo cineasta brasileiro Jorge Bodanzky. Em seu parecer, os jurados afirmam terem ficado impressionados “com este preocupante e bem detalhado estudo sobre corrupção e atos ilegais na Romênia contemporânea.”

O júri concedeu menção honrosa ao longa-metragem O Espião, de Maite Alberdi, uma coprodução Chile/ EUA/ Alemanha/ Holanda/ Espanha, sobre um homem que é convidado a interpretar um espião que precisa se infiltrar em um asilo onde um residente possivelmente está sofrendo maus-tratos.

O polonês Meu País Tão Lindo, de Grzegorz Paprzycki, foi eleito o melhor curta-metragem internacional.  O filme confronta duas forças que representam visões de mundo completamente diferentes: a perspectiva esquerdista de país contra a Polônia homogeneizada construída pela extrema direita.

O júri concedeu ainda menção honrosa ao curta-metragem alemão Saudade, da diretora afro-brasileira Denize Galiao. Em decorrência da doença de seu pai, a realizadora explora na obra os sentimentos que tem por seu lar e suas raízes.

Na cerimônia também foram anunciados os seguintes prêmios paralelos:

– Prêmio Aquisição Canal Brasil de Incentivo ao Curta-Metragem, para o filme brasileiro “Filhas de Lavadeiras”, de Edileuza Penha de Souza, que recebeu R$ 15.000,00 e Troféu Canal Brasil;

– Prêmio EDT (Associação de Profissionais de Edição Audiovisual), para a melhor montagem de um curta e um longa-metragem, concedidos, respectivamente, para “Metroréquiem”, montado por Adalberto Oliveira, e para “A Ponte de Bambu”, com montagem assinada por André Finotti e Raimo Benedetti.

– Prêmio Mistika, no valor de R$ 8.000,00 em serviços de pós-produção digital, anunciado junto ao prêmio oficial de melhor curta-metragem brasileiro.

O festival exibiu, de 23 de setembro a 4 de outubro, um total de 61 longas e curtas-metragens em competição e hors-concours, de forma gratuita, em plataformas de streaming disponível em todo o território brasileiro.

Durante a cerimônia de encerramento da 25a edição do É Tudo Verdade, diretores brasileiros cujos filmes estiveram na seleção deste ano leram em vídeo um manifesto a favor da cultura brasileira, da Cinemateca e da preservação da memória em movimento de nosso país.

Diz assim o manifesto: “É com sentimento de pesar que nós, diretores dos filmes do 25º festival de documentários É Tudo Verdade, manifestamos nosso total desacordo com os rumos da política cultural do país. O governo de extrema direita do Jair Bolsonaro age desde o início para atacar e silenciar os brasileiros que fazem da cultura e da arte como seus inimigos. A atividade audiovisual está paralisada desde março, com a suspensão de todos os recursos públicos para a produção de filmes e séries. Isso tem provocado uma taxa crescente de desemprego. São muitas as empresas que estão falindo, cineastas passando necessidade e a ameaça de paralisia total do setor. Isso sem falar da cinemateca brasileira, com seu acervo histórico que corre o risco de total destruição. A realidade que nos cerca, gritando em meio a paisagem agônica dos incêndios de setembro, não é uma mera metáfora. O fogo que destrói o Pantanal e a Amazônia, ocorre sob o mesmo governo irresponsável que ignora a tragédia da COVID-19 e que despreza as artes, cultura, a educação e a ciência. Eles têm medo de nós. A situação é gravíssima. Por isso convidamos as realizadoras e realizadores do audiovisual a se voltarem, mais uma vez, para a realidade. E, acima de tudo, não se intimidaram. É preciso cada vez mais buscar novas formas de produzir e registrar a nossa memória. E nunca parar e nem silenciar. Um país sem imagens de si mesmo é como alguém que não sabe o que é. É um país com Alzheimer.”

Os diretores que assinam o manifesto são: Aurélio de Michiles, Bernardo Vorobow, Bruno Moreschi, Carlos Adriano, Carol Benjamin, Clarice Saliby, Cláudio Moraes, Diógenes Muniz, Guga Millet, João Jardim, Jorge Bodanzky, Marcelo Machado, Mari Moraga, Mariana Lacerda, Paschoal Samora, Rafael Veríssimo, Roberto Berliner, Rubens Rewald, Silvio Tendler, Tali Yankelevich, Toni Venturi.

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