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Corações Sujos (filme)
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Corações Sujos

Avaliação:
7/10

7/10

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Crítica | Ficha técnica

Corações Sujos é um filme brasileiro com cara de estrangeiro. Especificamente, daqueles filmes japoneses que sofreram influência e ao mesmo tempo influenciaram os faroestes hollywoodianos. O diretor Vicente Amorin, do recente lançamento Motorrad (2017), aproveita a estória para se apropriar desse cinema que se tornou celebrado sob as batutas de Akira Kurosawa, vide Os Sete Samurais (1954) e Yojimbo (1961), entre outros.

A trama

O filme se baseia no livro Corações Sujos de Fernando Morais.

A trama se passa no interior de São Paulo, bem no final da Segunda Guerra Mundial. A população de imigrantes japoneses se divide em dois grupos. De um lado, aqueles que aceitam a rendição do Japão na guerra. De outro, os que encaram essa hipótese como falsa e acreditam que o Japão foi o vencedor.

E não se trata apenas de um debate de opiniões. O líder da turma que defende a vitória japonesa é um militar violento, que enfrenta a polícia municipal e, ainda, elimina seus opositores, os “corações sujos”. Para isso, ele nomeia o jovem Takahashi como o executor de suas ordens, e suas vítimas são assassinadas com uma katana, a espada samurai. O rapaz, porém, vive um conflito moral, pois tem dúvidas se está agindo corretamente. Quando, enfim, ele precisa matar o presidente da cooperativa de trabalhadores local, que é seu amigo, Takahashi é abandonado pela esposa Miyuki, e ele percebe seu erro.

Acontecimentos reais

Baseado em surpreendentes acontecimentos reais, contados no livro de Fernando Morais, Corações Sujos prende a atenção pelo absurdo dos fatos. Ainda que seja difícil sentir empatia pelo personagem principal, Takahashi, que obedece incondicionalmente às ordens do velho militar, o espectador torce por sua redenção.

Dois personagens femininos são a base para essa posição do público. Primeiro, sua esposa, que ama o marido e pratica o bem dentro da comunidade de amigos, e, gradativamente, se afasta dele quando descobre suas ações. Em uma cena emblemática, uma das últimas com o casal ainda junto, ela esfrega com força as costas de Takahashi durante seu banho, como que tentando limpar a sujeira moral que está impregnada nele. A outra personagem é a menina Akemi, aluna de Miyuki e que sempre estava perto de Takahashi, de quem gostava muito, até o rapaz matar o seu pai.

Falado em japonês

Vicente Amorin apostou em manter os diálogos em japonês, preservando a autenticidade dos fatos. Poucos diálogos são em português, basicamente as cenas com o ator Eduardo Moscovis, que interpreta o delegado a cidade. E não é só pelos diálogos que o filme parece nipônico. A fotografia que evidencia a paisagem arenosa e seca remete ao cenário habitual dos samurais no Japão feudal de Kurosawa. E imagens belíssimas lembram o requinte iconográfico de Seijun Suzuki, como a poça de sangue do suposto traidor abatido por Takahashi que se mescla à esfera vermelha da bandeira japonesa. Ou então a cena da morte, quase teatral, do pai de Akemi sobre o branco do algodão estocado no armazém, contrastando com o sangue.

Outro recurso comum em Kurosawa era o paralelo das forças da natureza com a emoção dos personagens, presente aqui na luta na lama sob a chuva torrencial. Amorin só erra ao insistir no uso de lentes que distorcem as margens do quadro, talvez com o intuito de caracterizar a visão deformada do grupo Shindo Renmei, fazendo a justiça pelas próprias mãos. Mas seu uso é excessivo.

Em suma, Corações Sujos representa uma produção à parte na filmografia brasileira, que se permite influenciar pelo cinema japonês sem que isso seja forçado, e sim como consequência natural de sua estória.


Corações Sujos (filme)
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