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Cosmópolis (filme)
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Cosmópolis

Avaliação:
7.5/10

7.5/10

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Crítica | Ficha técnica

Em Cosmópolis, David Cronenberg imagina como os bilionários enxergam o mundo. Como costumeiramente faz, nos surpreende com sua analogia dessa perspectiva ganhando a forma de uma limusine. Por fora, o alongado veículo branco é idêntico aos demais que circulam pela cidade de Nova York, onde se passa a história. Mas, por dentro, seu visual é high-tech, futurista, com vários monitores para que seu proprietário acompanhe as cotações das moedas estrangeiras; expertise que fez Eric Packer ganhar bilhões.

Robert Pattinson interpreta Packer, iniciando seu novo rumo numa carreira estigmatizada pelo papel do galã-vampiro que encarnou pela última vez em 2012. Nesse ano, o mesmo do lançamento de Cosmópolis, chegou aos cinemas A Saga Crepúsculo: Amanhecer – Parte 2 (The Twilight Saga: Breaking Dawn – Part 2). A proximidade desses dois lançamentos fez bem para a construção de Packer. Afinal, como Cronenberg logo revela, o bilionário pálido também é inumano e infeliz como o morto-vivo sanguessuga. Mas Packer não é um herói, e está longe da sensibilidade do vampiro romântico.

Durante um dia, acompanhamos o insensível Packer em busca de sua humanidade. É uma jornada semelhante à de Charles Foster Kane (outro ricaço) no filme de Orson Welles. Quando começa a trama, Packer expressa sua incontornável decisão de atravessar a cidade para cortar o cabelo. Embora seu chefe de segurança o alerte que o trânsito estará terrível devido à visita do presidente dos EUA, e durante o trajeto piorará com manifestações e com a morte de um rapper, Packer está determinado. O protagonista nunca manifesta o motivo. Mas, conforme a história avança, descobrimos que cortar o cabelo com o antigo cabelereiro do bairro onde cresceu representa uma reconexão com sua infância. Como o Rosebud de Cidadão Kane (Citizen Kane, 1941).

Do luxo ao lixo

Cosmópolis evidencia a degradação do personagem principal. No início, ele está elegantemente vestido, mas durante o dia seu visual se deteriora. Perde a gravata após fazer sexo com uma das mulheres que trabalham para ele. A esposa, que não faz sexo com ele há meses, percebe. Depois, fica pior ainda quando ele leva uma torta na cara de um ativista (pequena participação de Mathieu Amalric).

A degradação também é existencial. O vazio que o invade leva à busca pela autodestruição. Por isso, ele se livra de seu eficaz chefe de segurança pois quer se sentir exposto (numa cena chocante e inesperada). Como o seu Rosebud não funciona, ele se fere gravemente para ter certeza de que sente dor, ou seja, de que ainda é humano. Aliás, esse é outro momento surpreendente.

Em meio a isso tudo, refletimos sobre o significado da metaforizada limusine, com seu “brilho do capital cibernético” (como diz a personagem de Juliette Binoche). As cenas filmadas no interior do veículo são emblemáticas. Vemos o luxuoso carro por dentro, evidentemente filmadas em estúdio com o exterior nas janelas inseridos na pós-produção. De propósito, é fake, como a vida aparentemente feliz do bilionário de 28 anos.

Os protestos e tudo mais que acontecem nas ruas não entram nessa limusine, mas estragam o seu exterior. Na verdade, não precisam afetar o seu proprietário, pois esse já está em processo de deterioração. Por isso, ele acaba no apartamento em ruínas de um ex-empregado seu. O local está cheio de lixo eletrônico, cenografia típica de Cronenberg. Em outras palavras, Packer acaba no lixo. Assim, em um só dia, vamos do luxo da sua aparência ao lixo da sua essência.


Cosmópolis (filme)
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