O spin-off da franquia Rocky chega ao seu terceiro filme, desta vez sem Stallone nas telas. E quem assume a direção de Creed III é o próprio ator principal Michael B. Jordan. Em sua estreia na função, Jordan segue os passos de Ryan Coogler, que dirigiu Creed: Nascido para Lutar (Creed, 2015) mas que delegou seu posto para o menos talentoso Steven Caple Jr. em Creed II (2018).
Como diretor, Michael B. Jordan chega até a emular alguns recursos que Ryan Coogler utilizou no primeiro filme da franquia. Assim, nas lutas, alterna velocidade acelerada com um slow motion extremo (no primeiro combate, vemos até os músculos do abdome tremendo após receber um soco). E, além disso, novamente isola os lutadores no ringue de tudo ao seu redor, como se o local estivesse vazio, transmitindo um efeito onírico que se encaixa com o round fantástico da luta decisiva.
Mas, começando pelo início, a abertura de Creed III traz dois momentos do passado de Adonis Creed (Jordan). Um é o fantasma de um evento traumático de 2002 que ainda o persegue, e que será o motor dessa história. O outro é a conquista do título mundial que vimos no segundo filme, e que serve para contrastar com o presente. Afinal, Adonis largou o boxe e está acomodado – quando o vemos, ele está fantasiado brincando de tomar chá com a filhinha dele.
Um fantasma do passado
O fantasma do passado se materializa em Damian Anderson (Jonathan Majors). Ele passou dezoito anos na prisão, condenado após sacar uma arma na tentativa de defender seu amigo Adonis. Vale apontar aqui que as fraquezas de Creed III estão nesse personagem. Damian se reaproxima de Adonis para conseguir recuperar o tempo perdido e disputar o título mundial de boxe. Até aí, é compreensível, mas o roteiro não desenvolve o fato de ele estar envolvido com uma gangue de um companheiro de prisão. O filme mostra a foto de Damian e esse bandido juntos na época de encarceramento, e depois Damian reunido com um bando de mal-encarados. Mas não explica quem eles são e nem se podem colocar Adonis e sua família em perigo. Por isso, a reconciliação na última cena deixa tudo ainda mais inexplicado.
Um outro problema em relação a Damian é que ele tem motivos para se sentir magoado. Foi preso por defender Adonis, mas este nunca o visitou na prisão, nem ofereceu ajuda enquanto ficava famoso e rico. Apesar disso, o filme tenta fazer de Damian um vilão. Mas mesmo usando de golpes baixos ao enfrentar o atual campeão mundial, ainda tendemos a torcer por ele, pois o adversário, Felix Chavez (Jose Benavidez) é um valentão metido que gosta de espancar seus sparrings nos treinamentos. E que ainda tira sarro de Damian por causa da sua idade. Da mesma forma, na luta final, Damian parece mais merecedor que Adonis, como aconteceu com o Rocky diante de Apollo. Mas os primeiros filmes não tentaram transformar Apollo num vilão, e Creed III falha ao ficar no meio do caminho nessa proposta.
O diretor Michael B. Jordan
Pelo menos, a história em si funciona. Mostra Adonis enfrentando seu trauma do passado. Como ele não consegue a superação dentro de sua cabeça, precisa recorrer ao que ele faz de melhor, ou seja, numa luta. Conta a favor, também, o fato de Michael B. Jordan mostrar que aprendeu a dirigir com Ryan Coogler, que o dirigiu também em Fruitvale Station (2013) e Pantera Negra (Black Panther, 2018), e não só em Creed: Nascido para Lutar. Faltou só construir um rival mais consistente neste filme.
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Ficha técnica:
Creed III | 2023 | 116 min | EUA | Direção: Michael B. Jordan | Roteiro: Keenan Coogler, Zach Baylin | Elenco: Michael B. Jordan, Tessa Thompson, Jonathan Majors, Wood Harris, Phylicia Rashad, Mila Davis-Kent, Jose Benavidez, Selenis Leyva.
Distribuição: Warner.