Dark Web: Cicada 3301 é a pretensiosa e confusa estreia do ator Alan Ritchson na direção de longas-metragens. Talvez você conheça Ritchson como o protagonista da série Reacher (2022), entre outros papéis que ele já interpretou. Não há nada errado em ele se arriscar em novos desafios, pelo contrário, mas começa com o pé esquerdo. Procura a mistura de comédia e ação com alta dose de efeitos visuais modernos (os grafismos que infestam a primeira parte do filme) que funcionou bem nas mãos de Ruben Fleischer quando fez Zumbilândia (Zombieland, 2009). Porém, aqui as piadas chulas não têm graça e a direção e o roteiro são confusos.
A trama
Através de uma narração, Connor (Jack Resy) conta os apuros que passou quando acessou a Cicada 3301, um sofisticado jogo de recrutamento secreto. Na verdade, ele está num tribunal como réu, e relata como se envolveu no crime pelo qual ele está sendo acusado. Um dos motivos de o filme ser confuso está na quebra do paradigma ao mostrar na tela uma mentira. Afinal, Connor adapta os fatos, principalmente para ridicularizar os agentes da NSA (Agência de Segurança Nacional dos EUA que monitora dados, redes de comunicação e sistemas de informação). O diretor Alfred Hitchcock considerava esse recurso um erro, pois enganava o espectador, e por isso condenou seu próprio filme Pavor nos Bastidores (Stage Fright, 1950). No caso do filme objeto dessa crítica, além de provocar confusão, o recurso produz piadas tolas para pré-adolescentes.
A trama inclui uma coprotagonista, a inteligente bibliotecária Gwen (Conor Leslie), que ajuda Connor a decifrar as pistas do jogo e ainda entra em ação. Junta-se a eles, ainda que a contragosto, o amigo de Connor chamado Avi (Ron Funches). Inexplicavelmente, esses dois personagens, que foram importantes durante todo o filme, somem na conclusão. O enredo explica brevemente, numa frase, o que aconteceu com Avi, mas sequer esclarece se Gwen sobreviveu.
Enigmas
Por outro lado, Dark Web: Cicada 3301 pretende ser um desafiador jogo de enigmas para o espectador. Se desse certo, seria como um novo O Código da Vinci (The Da Vinci Code, 2006). Mas é bem menos elaborado. Quando os enigmas, ao menos, fazem sentido, são simplórios, como na cena em que Gwen resolve um desafio ao encontrar no chão o símbolo da organização junto a um QR Code. Contudo, na maior parte dos casos, nem fazem sentido ou a resolução depende de dados que só os personagens possuem (o que é frustrante para o espectador que quer elucidar o mistério junto com eles).
Acima de tudo, a trama toda parece confusa. Em parte, como dissemos acima, porque assistimos a cenas inventadas pelo protagonista. Mas, também porque o roteiro e a direção são confusos, não explicam os detalhes e ainda se perdem neles. Por exemplo, a própria juíza do tribunal confessa que achou toda a história contada por Connor confusa, desculpando-se pelo fato de conter muitos jargões técnicos. E, logo em seguida, outro juiz pergunta: “O Sr. Bundwig era ator?”, quando, de fato, devia questionar se Phillip Dubois, o vilão, era ator. Ora, se os próprios roteiristas (o diretor Alan Ritchson e Joshua Montcalm) se confundem, imagine os espectadores.
Elenco
O diretor Alan Ritchson, além de ser também co-roteirista, ainda interpreta o personagem Carver, um dos agentes abobalhados da NSA. Futuros projetos poderão determinar se foi o acúmulo de funções que o atrapalhou nessa primeira empreitada na direção, ou se ele não tem mesmo aptidão para essa função.
No papel do protagonista está Jack Kesy, que vimos em Sem Remorso (Without Remorse, 2021) e Posto de Combate (The Outpost) 2019. Ao seu lado, ele conta com Conor Leslie, atriz da série O Homem do Castelo Alto (The Man in the High Castle, 2015-2018). Além disso, ela interpreta a Wonder Girl na série Titãs (Titans, 2018-2021), produção da HBO Max que conta também com Alan Ritchson.
Enfim, Dark Web: Cicada 3301 claramente é pretensioso, o que torna difícil assistir esse filme como mera diversão, embora essa seja a única maneira de tentar apreciá-lo.
