Juliette Binoche se desnuda, em todos os sentidos, para o papel de Isabelle em Deixe a Luz do Sol Entrar, de Claire Denis.
Essencialmente, não há filtros para a exposição dos sentimentos da protagonista, uma artista que está divorciada do homem que amou e com teve uma filha. Isabelle busca um novo amor.
E o filme já abre com Isabelle nua na cama, vista de cima. Essa apresentação direta da protagonista evidencia que mergulharemos na sua intimidade. Afinal, a relação sexual vista na tela não é nada satisfatória e o parceiro tão errado que beira o caricato. De fato, esse banqueiro rico, desrespeitoso e aproveitador, parece ter sido construído dessa forma para indicar a desorientação de Isabelle.
Busca pelo amor
Deixe a Luz do Sol Entrar mostra a personagem nessa busca pelo amor, em diferentes relacionamentos. O tempo dos relatos não é claramente definido, o que contribui, juntamente com o rimo cadenciado da montagem, a afastar o estímulo para julgar ou tipificar Isabelle. Na verdade, o que importa aqui é o vazio que ela sente.
E o seu círculo de amizade, do meio artístico, atrapalha sua busca. Isso se evidencia quando ela se irrita com o pedantismo dos colegas em um passeio pelo campo, bem como quando um amigo enciumado questiona seu relacionamento com um novo namorado, por este não pertencer ao métier dela.
Então, após esse mergulho pesado no vazio existencial da personagem principal, Deixe a Luz do Sol Entrar se encerra em um tom surpreendentemente mais leve. A fim de ilustrar esse clima, faz-se uso de uma cena que se passa durante os créditos finais inteiros, o que é uma novidade.
Pouco antes, Gérard Depardieu surge em participação especial, como uma espécie de cartomante que aconselha Isabelle. Essa sequência parece brindar, com uma sessão de aconselhamento, as espectadoras que se identificaram com a protagonista. Por sinal, Depardieu fala para Isabelle cultivar a expressão do título, “un beau soleil intérieur”, como parte de suas recomendações.
Binoche e Denis
Em relação à atuação, Juliette Binoche entrega uma interpretação corajosa, bem como fortemente autêntica. De fato, em mais de um momento, ela está falando e começa a chorar, deixando a tristeza vir de dentro. Assim, a agonia da personagem é expressa sem artificialismo.
Em suma, o retrato do ser humano representa o tema central dos filmes de Claire Denis. Em Deixe a Luz do Sol Entrar, ela não se concentra em reproduzir a influência do diretor Yasujiro Ozu, como em outros trabalhos. Pelo contrário, ela aqui movimenta a câmera e a coloca muito perto da personagem, extraindo dela seus mais íntimos sentimentos. Como resultado, realiza um contundente mergulho no universo feminino.
Ficha técnica:
Deixe a Luz do Sol Entrar (Un beau soleil intérieur) 2017, França/Bélgica, 94 min. Direção: Claire Denis. Roteiro: Christine Angot, Claire Denis. Elenco: Juliette Binoche, Xavier Beauvois, Philippe Katerine, Josiane Balasko, Nicolas Duvauchelle, Alex Descas, Sandrime Dumas, Laurent Grévill, Bruno Podalydès, Paul Blain, Valeria Bruni Tedeschi, Gérard Depardieu. Distribuição: Imovision.
