Dentro (Inside), o segundo filme do diretor grego Vasilis Katsoupis, parte de uma premissa que preenche o requisito de inovação que tanto agrada aos produtores contemporâneos. Apresenta uma ideia que faz o espectador se espantar: um assaltante invade um apartamento luxuoso e tecnológico para roubar determinadas obras de arte, mas uma pane no sistema de segurança o mantém preso lá dentro sozinho por vários dias.
Quanto à originalidade, pode-se questionar, pois soa como uma variação da proposta de 4×4 (2019), do argentino Mariano Cohn, que já rendeu uma refilmagem brasileira – A Jaula (2022), de João Wainer – e uma norte-americana – Confinado (Locked, 2025), de David Yarovesky, que estreia em breve nos cinemas por aqui. Nesses filmes, o ladrão fica preso dentro de um carro de luxo e sofre alguns dos mesmos perrengues que o protagonista de Dentro.
Vasilis Katsoupis conta com Willem Dafoe, um ator extraordinário, para o papel do ladrão. Numa interpretação visceral, Dafoe transmite o agoniante sofrimento de Nemo. Nenhuma das suas tentativas para sair do local dá certo. E, pelo contrário, só piora a sua situação.
Estudo comportamental
Através dessa trama, o filme escancara o comportamento de uma pessoa em situação de desespero. Começa pela frustração porque os demais comparsas do roubo (um golpe ousado que envolve até um helicóptero) logo o abandonam quando o plano começa a dar errado. Depois, surgem outras necessidades.
A primeira é fisiológica: a sede. Como a água encanada foi desligada pelo proprietário que se ausenta por motivo de uma longa viagem, Nemo encontra pouca água disponível. Da sede segue-se a fome, que ele sacia como pode, recorrendo até a comida para cães. A ausência de água, por outro lado, torna o apartamento um local imundo depois de dias de confinamento.
O enredo aborda também a necessidade social, o que leva Nemo a fantasiar sobre uma imaginada relação com a funcionária do condomínio que ele vê através das câmeras de segurança. A religião se torna cada vez mais importante, como fonte de uma esperança ou como apoio para o fim que se aproxima. A mente fica perturbada, e Nemo tem sonhos e alucinações. Mas, o que se destaca por não ser óbvio, é a valorização da arte. Mesmo no meio do desespero, o protagonista ainda se preocupa em manter intactos os quadros quando o apartamento é molhado por sprinklers.
Aposta no drama
A direção aproveita o espaço desse grande apartamento para mostrar que ele é intransponível, tanto para quem quer entrar como para quem quer sair. Mas, por se mostrar amplo, perde a agonia da sensação claustrofóbica. Na verdade, o filme explora mais o sentimento de desolação do que da busca ativa por uma saída, ainda que o personagem aja dessa forma. Por isso, é mais drama do que ação ou suspense. Entram ainda sequências enigmáticas, ou simplesmente confusas, como a que ele tentar tirar algo da boca com uma faca. O final também está aberto a interpretações, o que reforça o desapontamento do espectador que tem assim a certeza de que o filme não entrega o que sua premissa oferece.
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Ficha técnica:
Dentro | Inside | 2023 | 105 min. | Grécia, Alemanha, Bélgica, Reino Unido, Suíça | Direção: Vasilis Katsoupis | Roteiro: Ben Hopkins | Elenco: Willem Dafoe, Gene Bervoets, Eliza Stuyck.