Após Água Fria (L’eau Froide, 1994), o filme Depois de Maio (Après Mai) apresenta uma nova imersão autobiográfica de Olivier Assayas no cinema. Até mesmo o nome do personagem que vive seu alter-ego se repete, Gilles, bem como da sua namorada Christine.
Desta vez, ele retrata sua vida como um jovem adulto, vivido por Clément Metayer. O ano é 1971, e a repressão policial contra as manifestações nas ruas é violenta, reflexo do que acontecera em 1968. Gilles é um desses ativistas, e suas ações não se limitam aos protestos nas ruas, mas compreende também pichações de prédios da universidade onde estuda, bem como criação e distribuição de material panfletário. O filme revela como ele e outros amigos sentem a necessidade de se engajarem politicamente, mas a situação está confusa e, mesmo entre os movimentos há dissidências. No caso específico do grupo de Gilles, ao ferirem gravemente um vigia da universidade, eles partem para outros caminhos.
Depois de Maio se preocupa em expor aquele zeitgeist, como se visto de dentro, segundo o próprio Assayas. De fato, esse objetivo ele atinge. Vemos como Gilles vivencia esse momento, junto com seus companheiros, mas cada um à sua maneira. Alguns buscam o sentimento de liberdade, que ecoa dos gritos hippies dos anos 1960, nas drogas, outros no sexo livre, ou na arte, ou até em tudo isso ao mesmo tempo. Sem cair no esquemático, o roteiro traz personagens que revelam essas alternativas, alguns com destinos trágicos. Um desses recortes, inclusive, lembra a preocupação dos pais com os filhos que desaparecem por causa desse sentimento da época, tal como Milos Forman bem retrata em Procura Insaciável (Taking Off, 1971).
Retrato de uma época
Gilles, seguindo a biografia de Assayas, entra relutantemente para o cinema, por causa de seu pai. Afinal, na vida real, ele é filho do roteirista Raymond Assayas, mais conhecido como Jacques Rémy. Mas, tanto Assayas como Gilles também buscavam uma carreira como pintor, apesar de que esse enredo, talvez até por modéstia do cineasta, mostra que um de seus melhores amigos possuía mais talento nessa arte.
Não chega a ser um filme episódico, mas a trama traz uma sucessão de eventos durante alguns anos. Com isso, traz à tona momentos decisivos nas vidas desses jovens, que se encontravam em uma encruzilhada existencial. Daí se justifica o uso recorrente de fade-outs para fechar esses pequenos momentos, que se aprofundam o suficiente para que nenhum protagonista pareça superficial.
Por fim, Depois de Maio não procura revelar os destinos dos personagens, apenas retratar esse instante marcante de suas existências. É um filme para captarmos o sentimento e não para acompanharmos uma narrativa.
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Ficha técnica:
Depois de Maio | Après Mai | 2012 | França | 122 min | Direção e roteiro: Olivier Assayas | Elenco: Clément Metayer, André Marcon, Lola Créton, Felix Armand, Carole Combes, Bobbi Salvör Menuez, Hugo Conzelmann.