Disappearance retrata a angústia de um jovem casal em busca de socorro médico urgente durante uma noite em Teerã, a capital do Irã.
Após a primeira relação sexual, Sara, de 19 anos, tem uma hemorragia. Então, ela e o namorado vão ao hospital em busca de atendimento, mas a atendente lhes informa que a cirurgia exige um acompanhante da família. Porém, Sara não quer que seus pais descubram que está namorando, e muito menos que ela perdeu a virgindade. Por isso, o casal passa a madrugada inteira procurando um hospital ou uma clínica que possa socorrer a jovem sem expô-la aos familiares.
Realismo
Acima de tudo, o longa-metragem de estreia do diretor Ali Asgari se destaca por seu realismo. As tomadas longas sempre acompanham os protagonistas, sejam com câmera estática ou perseguindo-os. Com isso, aproximam o espectador do drama que sentem os jovens personagens principais. Não há a ntenção de priorizar algum estilismo rebuscado que poderia prejudicar a autenticidade. Por exemplo, tome os longos planos no final do filme. Vemos Sara imóvel refletindo sobre a experiência que viveu nessa noite. Enquanto isso, seu namorado caminha pela rua, sem outra opção, senão resolver o problema imediato da falta de gasolina.
No mesmo sentido, a trilha sonora está ausente, exceto por uma canção que toca dentro do carro onde estão os protagonistas. De fato, no lugar da música, estão os ruídos da noite, dos motores dos carros e dos cachorros latindo, que reforçam o vazio dessa madrugada problemática. Quem já esteve num hospital no meio da noite reconhece o silêncio dos corredores. Silêncio interrompido apenas por vozes de pacientes gemendo com alguma dor ou de equipamentos médicos em funcionamento.
Adicionalmente, a interpretação dos jovens atores, tanto os protagonistas como os seus amigos, contribuem no realismo do filme. De fato, a atuação de todos parece bem natural. Ninguém força a expressão nem cai em exageros. Dessa forma, alinhando-se ao comportamento do iraniano médio.
Tema universal
Essencialmente, o tema de Disappearance é universal e toca o público de qualquer país. Afinal, trata da inexperiência da juventude, da dificuldade em tomarmos as melhores decisões enquanto ainda imaturos. Por isso, todos compartilhamos com os protagonistas essa sensação de se encontrarem na maior enrascada do mundo, sem saber o que fazer. Assim, Sara sofre por medo de enfrentar os pais, colocando até sua saúde em risco. No final do filme, ela já está mudada, aprendeu com essa dura vivência. Por fim, ela parte destemida, talvez até disposta a conversar com os pais sobre o ocorrido.
Até agora, Disappearance percorreu vários festivais internacionais e foi premiado como Melhor Longa-Metragem Narrativo no Atlanta Film Festival. Além disso, no Singapore International Film Festival, levou os prêmios de Melhor Filme Asiático e Melhor Atriz (Sadaf Asgari). Aliás, passou, inclusive, na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Definitivamente, um filme que merece ser visto.
Ficha técnica:
Disappearance (Disappearance, 2017) Irã/Catar. 89 min. Dir: Ali Asgari. Rot: Ali Asgari, Farnoosh Samadi. Elenco: Sadaf Asgari, Amirreza Ranjbaran, Nazanin Ahmadi, Pedram Ansari, Mohammad Heidari, Mohammad Kamal Alavi, Marjan Nekouei, Firouzeh Roknivand, Katayoon Saleki, Sahar Sotoodeh, Nafiseh Zare.