O documentário Doidos de Pedra, de Luiz Eduardo Ozório, recebeu o prêmio do júri popular da 25ª edição do Inffinito Film Festival, considerado o maior e mais importante festival de cinema brasileiro realizado no exterior.
A exibição aconteceu através da plataforma de streaming www.inff.online, a primeira dedicada exclusivamente ao audiovisual brasileiro. E Ozório ainda recebeu o prêmio especial do júri — que foi presidido pela atriz Betty Faria — como o Melhor Argumento.
Doidos de Pedra fala da região carioca de Pedra de Guaratiba, denunciando como a devastação tem avançado em toda a região. Antes um paraíso ecológico, teve sua orla completamente tomada pela poluição. Como se vê no documentário, a Baía de Sepetiba vem recebendo, há quatro décadas, toneladas de esgoto sanitário e dejetos de empresas de quase 20 bairros da Zona Oeste do Rio. A produção foi da OZ Films, a produtora de Ozório, junto com a FM Produções e a CopaBacana, com toda a equipe participando voluntariamente.
Um dos bairros mais antigos do Brasil, fundado em 1597 na Zona Oeste do Rio, a Pedra de Guaratiba é tema do documentário Doidos de Pedra – O Paraíso Ameaçado. Dirigido por Luiz Eduardo Ozorio, o filme foi escolhido como Seleção Oficial do Festival do Rio, também foi Seleção Oficial do FESTIN, Festival de Cinema de Lisboa e do Festival Internacional de Cinema do Camboja, Festival de Cinema de Ischia (ITA), LABRFF Los Angeles Film Festival, FAM Festival de Cinema de Florianópolis, Festival de Cinema de Caruaru e NICE Film Festival (FRA), 4 indicações, Santos Film Fest ,MADRID Film Fest, com 3 indicações, 25th Inffinito Brazilian Film Festival, ANTWERP Film Festival,e XXXVI Festival del Cinema Ibero-Latino Americano di Trieste.
O longa-metragem foi vencedor do prêmio de “Melhor Desenho de Som”, no Festival de Cinema de Caruaru, prêmio de Melhor Documentário, no Santos Film Fest e no 25th Inffinito Brazilian Film Festival, levou dois dos melhores prêmios: Prêmio do Juri (Lente de Cristal), e Prêmio Voto do Público como Melhor Documentário.
O filme busca criar um paralelo entre a degradação ambiental de uma natureza exuberante e o aspecto bucólico do bairro, enquanto apresenta moradores e admiradores ilustres e anônimos. Nos anos 1960, a colônia de pescadores virou refúgio de artistas: pintores, escultores, poetas, escritores, músicos, pescadores, ambientalistas e representantes governamentais que passaram ou ainda vivem lá contam suas histórias.
Destacam-se os depoimentos do ambientalista Mário Moscatelli, do paisagista Roberto Burle Marx, Maestro Roberto de Regina, Marco Imperial (filho de Carlos Imperial), Heitor dos Prazeres Filho (filho de Heitor dos Prazeres), do pescador João de Corina, do maestro Venâncio, Mestre Saul, Neise, que, entre outros, revelam jóias naturais e humanas sobre a Restinga de Marambaia, a Baia de Sepetiba, o manguezal, a lama medicinal, a fauna e a tradicional gastronomia local.
O bairro tem sua origem nas sesmarias doadas pelo rei de Portugal, Cardeal Rei Dom Henrique, a Manoel Veloso Espinha, como pagamento à fidelidade à Coroa, por lutar com Estácio de Sá na expulsão dos franceses e índios Tamoios do Rio de Janeiro.
Doidos de Pedra é uma obra com participação voluntária da equipe, produzida independentemente e com recursos próprios dos produtores. A produção é da OZ Films, FM Produções e CopaBacana.
Depoimentos
Doidos de Pedra reúne depoimentos de moradores anônimos e nomes de repercussão nacional, entre eles:
- Roberto Burle Marx – Considerado um dos maiores paisagistas do mundo, Burle Marx fez de Guaratiba o seu lar e seu atelier, levando a aquela comunidade um alto nível cultural e artístico, o que originou a sua Fundação, hoje tombada pelo IPHAN.
- Heitor dos Prazeres Filho – Heitorzinho, como gosta de ser chamado, é filho do lendário músico e artista plástico Heitor dos Prazeres. Seguiu os mesmos caminhos do pai e participou de inúmeras histórias no bairro, inclusive com personalidades como João Nogueira;
- Maestro Roberto de Regina – Ganhador de inúmeros prêmios no Brasil e no exterior, inclusive o Prêmio Sharp. O maestro realiza um concerto a luz de velas, no qual se apresenta trajado com um figurino do século XVI na Capela Magdalena, onde há um jardim com reproduções de animais exóticos, um museu de miniatura e o salão de concerto todo pintado à mão pelo próprio maestro com pinturas renascentistas;
- Mestre Saul – Ganhou este pseudônimo por dominar distintas formas de fazer arte. Formado em belas artes, o Mestre exerce as funções de escultor, pintor e músico. Em uma de suas séries artísticas, Saul denuncia a devastação ecológica local;
- Geraldo Clemente – Pintor, é um dos clássicos casos em Pedra de Guaratiba de um pescador que se tornou discípulo de um artista local, transformando sua própria vida numa lição incrível de superação. Geraldo também é músico e construtor de barcos;
- Neise – Ficou totalmente cega aos 44 anos e decidiu dar a volta por cima ao encontrar o grupo artístico “Mulheres de Pedra”, que a acolheu e lhe deu uma nova perspectiva de vida. Desenvolve arte na música, poesia, escultura e, embora não enxergue, na pintura, onde retrata sua preocupação ambiental com a poluição da praia;
- Maestro Venâncio – É neto do Maestro Deozíio Pinto, fundador da Banda Deozílio Pinto em 1873, que hoje é a terceira banda de música mais antiga do Rio de Janeiro. Venâncio é o quinto sucessor de maestros da banda desde sua criação, que por dificuldades em encontrar novos músicos começou a transformar os filhos de pescadores em músicos. Um trabalho social e artístico. O maestro também é um forte crítico das gestões governamentais pelo descaso ambiental em Pedra de Guaratiba.
- João de Corina – É mais um dos clássicos casos de pescador que se transformou num artista.
- Marco Imperial – Filho de Carlos Imperial e um morador ilustre de Pedra de Guaratiba, Marco conta a história de seu pai em Pedra e fala da sua luta, quando possuía uma rádio, contra grandes indústrias locais que poluem o meio ambiente.
- Mario Moscatelli – O especialista em manguezal sobrevoa a região de Guaratiba de helicóptero para mostrar os danos causados pelos esgotos de outros bairros que são jogados na Baia de Sepetiba, diretamente na Praia da Pedra de Guaratiba.
- Sandro Stroiek – O presidente da Foz Águas explica como os esgotos de 12 bairros desaguam na Baia de Sepetiba e causam a poluição e assoreamento na Praia da Pedra de Guaratiba. Relata ainda os planos da companhia para impedir que isso continue ocorrendo.
- Mauro Pereira – Presidente da OAB/Campo Grande denuncia a Cedae e a Foz das Águas por cobranças indevidas ao consumidor sobre um serviço que não prestam. Aponta sua indignação quanto a devastação ecológica causada pela omissão pública ao permitir por tantos anos a degradação dos principais rios que desaguam na Baia de Sepetiba.
O diretor
Luiz Eduardo Ozorio iniciou sua carreira como ilustrador. Ao longo do tempo, realizou trabalhos como designer e diretor de arte na extinta Mental Mark. Em 2010, criou as campanhas sociais para a ONG Trânsito Amigo, que hoje está em sua quarta edição e acumulou prêmios, reconhecimento e mídia espontânea por todo o mundo, como o Festival de Cannes. Graduado em cinema e mestrando na UBA – Universidad de Buenos Aires em Cinema Latino. Ao voltar para o Brasil, trabalhou como diretor de arte no longa metragem Solteira Quase Surtando; e como roteirista, produtor e diretor em seu primeiro longa-metragem, o documentário Doidos de Pedra.
Ficha técnica:
Título: Doidos de Pedra – O Paraíso Ameaçado
Direção e roteiro: Luiz Eduardo Ozório
Produção: OZ FILMS Productions, FM Produções, e CopaBacana Produções
Produção associada: Lunar Filmes
Duração: 105 min
Longa-metragem | Documentário
Produção: Luiz Eduardo Ozório, Fernando Muniz, Kiko Feitosa, Jorge Ávila, Felipe Câmara, Valeria Queiroz e Soni Drumond
Direção de fotografia: Rodrigo Guimarães, Ivan Barcellos
Som direto: Hugo Monteiro, David Valcarcel, Sidney Arruda e Luiz Filipe Ozório
Montagem: Luiz Eduardo Ozório, Paulo Mainhard, Ross Miller
Trilha sonora original: Eduardo Camenietzki
Pós-produção: Místika
Desenho de som: Ricardo Calafate
Animação: Rodrigo Ibrahim, Igor Irog