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Duas Almas se Encontram (Barbary Coast, 1935)
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Duas Almas se Encontram

Avaliação:
8/10

8/10

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Crítica | Ficha técnica

Duas Almas se Encontram (Barbary Coast, 1935), oficialmente, é o primeiro faroeste dirigido por Howard Hawks. Rodara antes partes de Viva Villa! (1934), mas os créditos da direção couberam somente a Jack Conway.

Por ironia, desta vez William Wyler filmou cenas de Duas Almas se Encontram, porém, sem receber o crédito por isso.

Trata-se de um western urbano, que se passa no Barbary Coast, apelido do distrito da luz vermelha de San Francisco, em 1849. Mary Ruthledge (Miriam Hopkins) desembarca na cidade para consumar um casamento arranjado com um garimpeiro que reuniu uma gorda quantidade de dinheiro. Porém, logo a informam que seu noivo morreu após perder todo o dinheiro para o dono do saloon local, Luis Chamalis (Edward G. Robinson). Então, não resta outra opção a Mary a não ser trabalhar como operadora das roletas viciadas do próprio Chamalis. Este tenta conquistá-la, mas ela acaba se apaixonando por um forasteiro que conhece no campo, de nome Jim Carmichael (Joel McCrea). Ele conseguiu encontrar ouro, mas corre o risco de repetir o destino do falecido noivo de Mary.

Um faroeste diferenciado

Além de a trama se desenrolar, majoritariamente, na cidade, a ambientação do filme também foge dos padrões do faroeste. A fotografia de Ray June, premiada com o Oscar, traz muita névoa, chuva, cenas noturnas etc., ao invés do calor do deserto. Nesse mesmo sentido, o vilão Luis Chamalis não é nenhum pistoleiro assassino, mas um poderoso chefão que usa seu capanga para executar sua maldade. O visual de Chamalis quebra as expectativas com um brinco na orelha esquerda e roupa alinhada e cheia de bordados. Em outras palavras, um dândi.

Outra cena que diferencia Duas Almas se Encontram do faroeste tradicional é a perseguição em botes a remo. Já na parte final, Mary e Carmichael tentam escapar de Chamalis. Ademais, o mocinho Carmichael tampouco é um pistoleiro. Ele vem da Costa Leste, é educado, culto e ama poesia. Aliás, o filme sutilmente incentiva a educação e a cultura, através deste protagonista e do personagem secundário Marcus Aurelius Cobb (Frank Craven). Este funda o seu próprio jornal em San Francisco e tenta publicar a verdade sobre o submundo que governa o local, mas paga caro por isso.

Os personagens

Apesar de o filme distribuir a atenção entre seus vários personagens, chama a atenção o protagonismo feminino. Mary abre e conclui a história, e a trama principal se desenvolve ao redor dela. É uma marca do cinema de Hawks apresentar mulheres fortes, que não se dobram aos homens, e Mary exemplifica perfeitamente esse tipo. Mesmo diante de um oponente poderoso, ela deixa claro que não lhe pertence. E, se o homem que ela ama olha torto para ela por causa de sua profissão, ela revida à altura.

Contudo, Duas Almas se Encontram não se concentra exclusivamente em Mary. Luis Chamalis e Jim Carmichael possuem seus momentos de protagonismo autônomo. Aliás, até os personagens secundários também aparecem em trechos sem a presença dos protagonistas. Por exemplo, o dono do jornal, ao se lançar em sua arriscada empreitada de jornalismo ético, e o assassino a serviço de Chamalis que enfrenta os justiceiros da cidade.

A cidade como protagonista

Esse compartilhamento de protagonismo evidencia que o filme se constrói a partir do ambiente da história. O tal distrito Barbary Coast reúne a violência, a prostituição e as drogas que surgem com a descoberta do ouro. Expressamente, a trama menciona o ópio, e a chegada de Mary Ruthledge chama a atenção por ela ser uma “mulher branca”, logo aludindo a presença de uma nova opção para os frequentadores do saloon repleto de prostitutas latinas.

O preconceito racial fica ainda mais evidente com a perseguição aos chineses, que são maltratados nas ruas, sob protesto de Marcus Aurelius Cobb, defensor da moral. Porém, nessa cidade sem lei, a justiça é feita pelas próprias mãos dos moradores, daí a forte cena do enforcamento pelos justiceiros. Por fim, encontramos a prova de que a cidade está acima dos personagens no fato de a redenção do vilão ser insuficiente para o seu destino nas mãos dos justiceiros, ainda que sua execução permaneça fora da tela.

Prenúncio de um cinema moderno, Duas Almas se Encontram, escrito por Ben Hecht e Charles MacArthur, privilegia o meio social em detrimento dos seus personagens. Com isso, retrata um faroeste urbano numa cidade sem lei comandada pela violência.


Duas Almas se Encontram (Barbary Coast)
Duas Almas se Encontram (Barbary Coast)
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