Da soma de uma fórmula do drama romântico com um tema atualíssimo resulta o sucesso de É Assim Que Acaba, que arrecadou uma bilheteria de quase 350 milhões de dólares no mundo e permaneceu várias semanas em cartaz no Brasil. A equação já foi testada antes pelo diretor, Justin Baldoni. Seus dois longas anteriores, A Cinco Passos de Você (2019) e Clouds (2020), apostaram nas lágrimas fáceis das histórias de jovens com doenças graves. Neste novo filme, o distúrbio é psicológico e criminoso: o relacionamento abusivo. O apelo popular desse assunto já rendeu produções como Dormindo com o Inimigo (1991), com Julia Roberts, e o recente Querida Alice (2022), com Anna Kendrick, cuja crítica escrita por Sérgio Alpendre foi uma das mais lidas deste site à época de sua publicação.
O melodrama
No início de É Assim Que Acaba, Lily Bloom (Blake Lively) comparece ao funeral do pai, com quem não teve um bom relacionamento porque ele agredia a mãe dela (com um agravante que a trama revela mais para frente). Por esse mesmo motivo, ela não se envolve em relacionamentos. Mas, ao se apaixonar pelo belo neurocirurgião Ryle Kincaid (interpretado pelo próprio diretor Justin Baldoni), acaba cedendo ao pedido de namoro, e depois casamento, dele.
Sem esconder a previsibilidade óbvia, Lily descobre que Ryle tem rompantes de fúria. Os flashbacks do passado traumático aos poucos vão se revelando, o que enseja um paralelo entre as duas situações similares. O abuso sexual sofrido por elas afirma uma repetição do padrão, da filha passando pela mesma agrura que a mãe sofreu.
O romance complicado de Lily abre espaço para um triângulo amoroso, igualmente previsível. Dentro dos flashbacks da protagonista na adolescência, entram recortes do seu primeiro amor, um rapaz sem-teto que ela resolve ajudar. Esse relacionamento não vinga por causa do pai intolerante, e agressivo. Nos dias atuais, logo após o primeiro incidente de agressão de Ryle contra Lily, ela reencontra esse seu primeiro namorado, Atlas Corrigan (Brandon Sklenar).
A direção e a mensagem
Se há pelo menos um elogio a se fazer a É Assim Que Acaba, este seria para a forma como o diretor Justin Baldoni filma as agressões. Quando acontecem, parece tudo tão rápido que o espectador nem consegue entender o que se passou. Com isso, se aproxima da percepção que tem Lily, tanto que, a princípio, ela acredita que foram acidentes sem intenção. Reação comum a quem não quer aceitar que a pessoa amada possa cometer tal atrocidade. Posteriormente, quando ela já concluiu que se tratou de agressões, a cena é retomada não com a perspectiva dela, mas de um ponto de vista objetivo.
Por outro lado, Baldoni abusa das montagens de cenas embaladas por música, para contar o desenvolvimento do namoro, da preparação do quarto do bebê, do parto, além das várias passagens de reflexão com a protagonista dirigindo ou olhando para a paisagem. É um sinal de falta de ideias criativas, defeito que também enseja encerrar o filme com a protagonista repetindo a frase do título original em inglês.
Salva o filme a importante mensagem para quem sofre um relacionamento abusivo. A própria irmã de Ryle, sendo também a melhor amiga de Lily, insiste que ela o deixe. Assim, embora ele seja um doce em estado normal, os surtos de agressividade afastam qualquer possibilidade de convivência. Afinal, como viver com alguém que pode a qualquer momento te agredir? Nem mesmo a humanização do agressor, pois esse distúrbio tem origem num trauma na infância, alivia a restrição que a protagonista se impõe para nunca mais voltar para o ex-marido. Como a Alice de Anna Kendrick, a Lily de Blake Lively personifica a mulher que não aceita mais sofrer calada.
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Ficha técnica:
É Assim Que Acaba | It Ends With Us | 2024 | 130 min | EUA | Direção: Justin Baldoni | Roteiro: Christy Hall | Elenco: Blake Lively, Justin Baldoni, Jenny Slate, Hasan Minhaj, Amy Morton, Brandon Sklenar.
Distribuição: Sony Pictures.
