O filme É Só Por Um Tempo abriu a 9ª Mostra de Cinema Chinês de São Paulo, que acontece entre 4 e 15 de outubro no CCSP, numa sessão para imprensa e convidados.
Terceiro longa dirigido por Fei Long, É Só Por Um Tempo (G for GAP, na distribuição no mercado norte-americano) compõe-se de 70% de comédia e 30% de drama. Divide-se assim, inclusive, cronologicamente . Começa com piadas bem tolinhas, um humor direto formado por gags visuais, algumas que beiram o pastelão e outras recorrentes explorando características dos personagens. Como, por exemplo, o pai que aparece toda hora espiando, desconfiado, a esposa atuando no filme do filho. Depois, no terço final, o enredo surpreende ao mergulhar no drama, o que definitivamente melhora a experiência do espectador.
Na trama, Wu Di volta para a casa dos pais depois de fracassar na capital Pequim, para onde se mudara para tentar ser roteirista. Preocupado com o marmanjo dentro de casa, o pai engole seu orgulho e pede a um amigo que consiga um emprego para o filho. Porém, Wu Di recusa a oferta e trabalho. Quando reencontra uma colega da escola, Feng Liuliu, ela, que é jornalista de TV, resolve filmar um documentário sobre Wu Di. Mas o projeto não vai para frente, porque ele parece um grande preguiçoso, e ninguém se interessaria em assistir um filme sobre uma pessoa assim.
Da comédia ao drama
Ou seja, a própria trama conduz para a comédia. E, continua nesse caminho quando Feng decide filmar um roteiro de Wu Di sobre uma mulher idosa que se apaixona por outra pessoa fora do casamento. O grande erro de Feng e Wu Di é rodar o filme dentro da casa do rapaz, usando a mãe dele no papel principal e um ator de teatro veterano como seu par. Logo, mais trapalhadas surgem. Além da falta de experiência atrapalhar, o pai de Wu Di fica com ciúmes e está sempre espionando a esposa.
Independentemente das piadas, essas filmagens gerarem momentos interessantes, só pelo fato de mostrarem os bastidores de uma produção audiovisual. O retrato desse processo é bem autêntico, e inclui vários termos técnicos. Surge um viés de comédia romântica, porém, o enredo desvia desse caminho com uma inesperada tragédia. O drama toma conta – parece que nada dá certo mesmo para o protagonista perdedor.
Para piorar (para o personagem, mas que ajuda o filme a crescer), o chefe de Feng toma o material filmado e lhe dá um novo significado ao transformar em um documentário seu. Através da montagem, deturpa o sentido original – e faz Wu Di parecer um imprestável.
Como terminar
Dois trechos importantes revelam como Wu Di e seu pai se colocam no lugar da mãe. O rapaz, ao experimentar a cadeira massageadora que sua mãe adorava e que ele pensava em comprar um dia para ela. O pai, na filmagem da cena final do roteiro de Wu Di, que poderia encerrar com brilhantismo os dois filmes (o de Feng e o longa em si) de uma vez só.
Contudo, É Só Por Um Tempo desperdiça esse achado e encerra num burocrático epílogo que se passa três anos depois. Serve para evidenciar o destino de cada personagem, mas não traz nenhuma surpresa. O final aberto, pelo contrário, deixaria por conta do espectador imaginar com mais criatividade o que aconteceria com eles.
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Ficha técnica:
É Só Por Um Tempo | Zou zou ting ting | 2024 | 103 min | China | Direção: Fei Long | Roteiro: Jia Huang | Elenco: Ge Hu, Yuanyuan Gao, Hong Yue, Yemang Zhou, Jing Jin, Yunchen Gan, Ziming He.