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Ela (filme)
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Ela

Avaliação:
8/10

8/10

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Crítica | Ficha técnica

Ela (Her) antecipa uma questão que o avanço da tecnologia logo exigirá de nós.

Spike Jonze possui uma inventividade genial, que ele demonstra em uma carreira multimídia. Um dos criadores da hoje extinta revista Dirt, Jonze dirigiu vários videoclipes de artistas famosos como REM e Björk, além de documentários e longas de ficção, com destaque para Quero Ser John Malkovich (1999). Até mesmo em sua vida pessoal, Jonze se distingue – foi casado com Sofia Coppola de 1999 a 2003. Com Ela (Her), que ele dirige e escreve, ganhou Oscar de melhor roteiro original.

Premissa original

A estória parte de uma premissa bem original, ainda que cada vez mais óbvia e possível. Em um futuro próximo, é lançado um assistente virtual dotado de inteligência artificial, que interage com seu dono como se fosse uma pessoa de verdade. Parece a ferramenta ideal para Theodore (Joaquin Phoenix), um homem perto dos quarenta anos que passa por um doloroso processo de divórcio iniciado pela sua esposa Catherine (Rooney Mara), por quem ainda é apaixonado. O novo sistema operacional ganha o nome de Samantha (voz de Scarlett Johansson) e se torna sua companheira de todos os momentos. Logo, a inteligência artificial de Samantha desenvolve nela sentimentos como ciúme, afeto e, por fim, amor. Porém, namorar um sistema representa uma disruptura ainda em processo de assimilação pela sociedade, e Theodore será forçado a questionar se essa opção é aceitável.

Aliás, falando em inovação, a profissão de Theodore parece uma evolução da atividade da personagem de Fernanda Montenegro em Central do Brasil (1988). Ou seja, Isadora escrevia cartas para os iletrados na estação de trem. E Theo responde as cartas que são enviadas por pessoas para a empresa onde trabalha, endereçadas a amigos e parentes que já morreram ou gente que só existe na fantasia delas. O diretor Spike Jonze engana o espectador de Ela (Her). A princípio, o público deduz que Theodore está escrevendo ele mesmo uma carta para uma pessoa querida, para depois revelar que ele está apenas trabalhando nessa empresa que responde correspondências.

Papel do figurino na narrativa

O filme emprega o figurino para ajudar a contar a estória. No início, o casaco vermelho de Theodore o destaca no ambiente, numa cidade do futuro próxima caracterizada por uma paleta de tons marrons e cinzas, depois alternada com tons azuis. As cores quentes voltam em outros momentos para as vestimentas desse personagem, evidenciando sua emotividade latente, abalada pela recente separação conjugal, e carente de um novo relacionamento. Essa característica torna mais fácil aceitarmos como ele sucumbe à novidade tecnológica que oferece uma companhia similar a uma pessoa de verdade. Quando o novo sistema operacional aparece na tela, sua intensa cor laranja se conecta com a camisa de Theo, que tem o mesmo tom.

A falta que Theodore sente de Catherine fica clara com os constantes flashbacks que mostram o casal em momentos felizes, destacando a beleza de Rooney Mara para que o espectador sinta o quanto apaixonado ele estava, e ainda está. Nesse ponto, é curioso como o filme trata a beleza física. Esse aspecto é demonstrado também no encontro às cegas com a personagem de Olivia Wilde e na experiência sexual que Samantha tenta arranjar para Theo, com uma mulher que a personifique (Portia Doubleday). Enfim, as duas tentativas com essas mulheres lindíssimas não dão certo, porque Theo já está envolvido emocionalmente com Samantha, que nem tem um corpo.

Transformação

Evidentemente, o relacionamento de Theo com Samantha enfrentará empecilhos, inclusive técnicos, afinal, há uma empresa por trás do sistema operacional. Quando o namoro entra em crise, vemos Theo andando numa floresta gelada, clima propício para representar o final de um relacionamento, de repente o vemos conversando com Samantha apenas em seu pensamento, dando a ideia de que esse amor virtual se encontrava apenas dentro dele mesmo e não na máquina com a qual ele se correspondia. Um gesto carinhoso com sua melhor amiga Amy (Amy Adams) indica sua transformação para se abrir para um novo relacionamento com uma pessoa real.

Por fim, Ela (Her) possui um ritmo lento, que dá tempo para as reflexões existencialistas que o filme instiga. Reflexões essenciais que os próximos anos inevitavelmente exigirão de nós.

 

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