Na abertura de Elas por Elas (Tell It Like a Woman) vem a informação que o filme foi criado para apoiar a organização We Do It Together em sua missão de empoderar mulheres e promover a igualdade de gênero. Mais que uma informação, é um alerta para o espectador, pois filmes feitos por uma causa tendem a ser mais mensageiros do que uma obra artística ou mesmo de entretenimento. Mas neste caso, por ser uma antologia de curtas sobre o tema, não parece tanto um filme encomendado.
Filmes 1 a 4
A primeira história, dirigida por Taraji P. Henson, no entanto, tem essa cara de propaganda. Mostra uma viciada na prisão que entra num programa de reabilitação. Baseada em eventos reais, a verdadeira reabilitada aparece na tela para falar bem do programa. A filmagem busca a impressão de ser realista através dos usuais recursos de câmera na mão, com vários recortes e cenário e fotografia sujos. De interessante, fica a ideia de mostrar a personagem falando com ela mesmo, sendo o duplo dela uma metáfora para o seu auto-sabotamento.
O segundo conto, de Catherine Hardwicke, repete essa intenção de valorizar os bons exemplos femininos. Desta vez, uma médica que atendeu moradores de rua durante a pandemia. O único destaque fica para o simbolismo das várias camadas de roupas que a sua paciente precisa tirar, representando a sua resistência à ajuda externa. De novo, a câmera está na mão como numa reportagem televisiva.
O terceiro filme sai dos Estados Unidos e vai para a Itália. Lá, uma mulher retorna para a cidade onde foi criada porque sua irmã se suicidou. Mas, para sua surpresa, ficou com a custódia da sobrinha, que ela nem conhece. O final abrupto não surpreende com a mensagem sobre a importância de abrir espaço em sua vida para sua família. A direção é de Lucia Puenzo.
O segmento número 4 se passa no Japão e tem direção de Mipo Oh. O relato, singelo até demais, mostra uma mãe dona de casa com inúmeras tarefas que, de repente, é surpreendida por um presente inesperado.
Filmes 5 a 7
No conto seguinte, novamente na Itália, uma veterinária faz plantão noturno e se esquece de um compromisso com a filha. Mas sua ausência na família lhe deu a oportunidade de denunciar um caso de violência doméstica. É o curta com melhor direção (de Maria Sole Tognazzi) ainda que no estilo clássico.
Bombaim, na Índia, é o cenário do sexto filme, da diretora Leena Yadav. Traz a direção mais estilizada, com muitos cortes, sequências de fantasia com música e dança. O seu enredo trata de uma cirurgiã plástica que aprende a superar seu preconceito contra pessoas trans.
Por fim, Silvia Carobbio dirige uma animação no estilo Divertida Mente e Soul. Com boa qualidade e belos traços, esse filminho mostra uma alma como personagem que representa mulheres aprisionadas pela rotina diária. Num desfecho um bocado antiquado, surge uma outra alma, masculina, para libertá-la.
Aplausos para a causa
Em suma, são sete curtas unidos pela temática do empoderamento feminino e igualdade de gêneros. Os dois primeiros ficam abaixo da média, pois são mera propaganda; assim como o segmento no Japão, pela sua história fraca; e todos esses três dirigidos propositalmente de maneira pobre, para assim emular realismo. Os demais são adequados, no máximo. Elas por Elas, apesar disso, chegou a concorrer ao Oscar por conta de sua canção piegas “Applause”, composta por Diane Warren e cantada por Sofia Carson. Sua letra diz para as mulheres se autovalorizarem.
No fim das contas, é a causa que o filme apoia que vale mais que a própria obra.
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Ficha técnica:
Elas por Elas | Tell It Like a Woman | 2022 | EUA | 112 min. | Direção: Silvia Carobbio, Catherine Hardwicke, Taraji P. Henson, Mipo Oh, Lucía Puenzo, Maria Sole Tognazzi, Leena Yadav | Roteiro: Krupa Ge, Shantanu Sagara, Leena Yadav, Catherine Hardwicke | Elenco: Marcia Gay Harden, Eva Longoria, Leonor Varela, Margherita Buy, Katie McGovern, Cara Delevingne, Freddy Drabble, Andrea Vergoni, Jennifer Hudson, Jennifer Ulrich, Katia Gomez, Anne Watanabe, Ayesha Harris, Brandon Win, Danielle Pinnock, Pauletta Washington, Jacqueline Fernandez, Iacopo Ricciotti, Sergio Allard.
Distribuição: A2 Filmes.