Pesquisar
Close this search box.
Elle (filme)
[seo_header]
[seo_footer]

Elle

Avaliação:
8/10

8/10

clique no botão abaixo para ouvir o texto

Crítica | Ficha técnica

Em “Elle”, uma personagem intrigante

A atriz francesa Isabelle Huppert encara, aos 63 anos, uma das personagens mais instigantes do cinema em “Elle”. A direção é de Paul Verhoeven, que já teve em suas mãos um roteiro com personagem feminina que se tornou icônica, a Catherine Tramell de “Instinto Selvagem” (Basic Instinct, 1992). Desta vez, porém, a profundidade é muito maior.

A primeira cena mostra o final do estupro de Michèle Leblanc (Huppert), em sua própria casa, por um homem mascarado. Após a fuga dele, ela se livra das suas roupas e vai tomar banho, sem prestar queixas à polícia, por um motivo pessoal revelado posteriormente. Desde aí nos sentimos compelidos a descobrir quem de fato é Michèle. E sua complexidade aumentará à medida que a conhecermos melhor. A sua profissão já desperta curiosidade. Afinal, ela é a proprietária de uma empresa que desenvolve jogos eletrônicos, bem mais original que os clichês “advogada” ou “executiva de multinacional”. Porém, esta é apenas a mais simples de suas distinções.

Michèle luta contra um passado traumático. Seu pai assassinou vários vizinhos, inclusive crianças. Por isso, foi condenado à prisão. Seu crime hediondo ganhou repercussão nacional na mídia, que fotografou a ainda criança Michèle no local do crime, como se participasse da matança. Nos dias de hoje, ele ainda permanece encarcerado. E Michèle é pressionada a visita-lo por sua mãe, uma senhora com inúmeras cirurgias plásticas que possui um namorado jovem que claramente só se interessa pelo dinheiro dela.

Michèle

A personagem de Isabelle Huppert possui um filho na casa dos vinte anos, que não quer saber de trabalhar. Contudo, ele engravidou a namorada e pede que sua mãe banque o aluguel para ele. O quadro de relacionamentos ainda inclui a melhor amiga de Michèle, com quem esta tem um caso. Além disso, Michèle mostra interesse no vizinho da frente, casado com uma fanática católica.

O estupro voltará às telas em um flashback de Michèle, desta vez em sequência mais longa e detalhada. Pior ainda, o ato voltará a se repetir, e ainda assim o caso não vai para a polícia. Separada de seu marido, ela vive sozinha e faz questão de se mostrar independente. Assim, ela adota um estilo de vida além do feminismo, com coragem suficiente para não se abalar com a violação física e se colocar em posição superior ao seu agressor. Não espere dela os comportamentos que nos habituamos a ver no cinema. Pelo contrário, ela nos surpreende em vários momentos.

O tema religioso marca presença na personagem da vizinha de Michèle, uma católica radical que defende sua crença até mesmo no jantar para o qual foi convidada. A sequência em que Michèle se masturba observando seu vizinho pela janela, enquanto ele descarrega estátuas de figuras religiosas para seu jardim, evidencia a religiosidade no filme. Este será um motivo essencial para o comportamento do casal nos momentos finais.

Além da construção rica da personagem Michèle, as outras ao seu redor, mesmo em patamares secundários, possuem profundidade suficiente para evitarem clichês, porque possuem camadas além das obviamente aparentes. A sua mãe, por exemplo, parece frívola durante todo o filme, até que a concretização de sua insistência da visita de Michèle ao pai na prisão acaba num resultado que pode ter sido sagazmente planejado por ela.

Um filme a ser valorizado

Isabelle Huppert foi a única candidata ao Oscar que não conseguiu disfarçar sua decepção ao ver o prêmio de melhor atriz ser ir para Emma Stone (por “La La Land”). Afinal, o louvável esforço dessa jovem estrela em interpretar uma personagem que canta e dança – atos não naturais para ela – não se compara com o arrojo da veterana em construir um personagem tão complexo. Com certeza, a maioria das atrizes membros da Academia que puderam votar nessa categoria não assistiu a esse título francês que, injustamente, não concorreu nem ao Oscar de melhor filme estrangeiro.

Há muito mais em “Elle” do que a sinopse do filme parece caracterizar. Não é uma simples história de vingança ou drama sofrido pela mulher violentada. Afinal, se Paul Verhoeven não realizou filmes superficiais em Hollywood, não seria em seu debut francês que isso iria acontecer.


Elle (filme)
Elle (filme)
Compartilhe esse texto:

Críticas novas:

Rolar para o topo