No filme Em Nome da Terra, assim como na vida, o fracasso pode surgir inesperadamente. Por isso, a questão que se levanta é: como reagir e superar diante das adversidades?
Em seu primeiro longa ficcional, o diretor Edouard Bergeon leva para as telas a história pessoal de seu pai. Aliás, isso fica evidente na naturalidade que emana do filme, especialmente, nos episódios anteriores ao revés da trama.
A história
Em 1979, após passar um tempo trabalhando numa grande fazenda nos EUA, Pierre retorna para sua cidade de origem na França. Então, compra a fazenda do seu pai, comprometendo-se a pagar parte do valor durante os próximos anos.
Em seguida, o filme retoma o relato em 1996. Pierre aprimorou a fazenda e agora quer expandir o agronegócio com máquinas e instalações modernas. Para isso, se endivida.
Até esse momento, o filme apresenta um tom essencialmente feliz. Apesar do trabalho duro, Pierre conta com o apoio da esposa e do filho de uns 15 anos. Esse clima acompanha o entusiasmo de Pierre, com altas esperanças de que seu empreendimento dará resultados positivos.
A sorte muda
O espectador experiente já prevê algum problema no caminho do protagonista, para assim inserir emoção nessa narrativa. A princípio, os percalços parecem se restringir às suas desavenças com o pai. Porém, o filme surpreende com um revés enorme: um incêndio destrói completamente a moderna instalação da fazenda usada para criar cabras e galinhas.
A partir de então, o filme muda radicalmente, e a tristeza predomina. Desde o incêndio, fica difícil conter as lágrimas diante do cruel destino desse protagonista honesto e trabalhador. Devido a essa empatia quase compulsória, acompanhamos Pierre mergulhar na depressão sem julgá-lo. Aliás, com certeza, essa é a postura do diretor ao refletir sobre essa sua vivência com seu pai.
O risco do agronegócio
Por outro lado, Em Nome da Terra dialoga com o recente Minari: Em Busca da Felicidade (2020), filme que concorreu a seis Oscars. Ambos constituem retratos de agricultores separados no tempo e no espaço que se conectam pelos riscos que assumem. A respeito disso, o diretor Edouard Bergeon insere antes dos créditos finais a informação sobre a alta taxa de agricultores que se suicidam na França. Dessa forma, indiretamente ele clama por medidas, governamentais ou privadas, para garantir alguma segurança aos agropecuários para que consigam se reerguer após um grande prejuízo.
Por fim, além de comovente, Em Nome da Terra é necessário para mudar esse cenário desumano. Na verdade, ele reforça a mensagem que o diretor passou em seu documentário Infrarouge: Les fils de la terre (2012), que contou a mesma história em formato não-ficcional.
___________________________________________
Ficha técnica:
Em Nome da Terra (Au nom de la terre) 2019. França. 103 min. Direção: Edouard Bergeon. Roteiro: Edouard Bergeon, Emmanuel Courcol, Bruno Ulmer. Elenco: Guillaume Canet, Veerle Baetens, Anthony Bajon, Rufus, Samir Guesmi, Yona Kervern, Solal Forte, Mélanie Raffin.