Entre Tiros e Beijos (Din in a Gunfight, 2021) se perde no seu visual exageradamente rebuscado. Em seu terceiro longa, o diretor Collin Schiffli coloca tanta ênfase nos efeitos que a narrativa fica em segundo plano.
Na verdade, o roteiro de Andrew Barrer e Gabriel Ferrari já não apresenta nada de novo. Pelo contrário, parece um pastiche de referências clássicas, como “Romeu e Julieta” e “Robin Hood”, e contemporâneas, como os filmes Gangues de Nova York (Gangs of New York, 2002) e O Demônio das Onze Horas (Pierrot le Fou, 1965).
Em breve sinopse, desde 1867, as famílias Gibbon e Rathcart são rivais na cidade de Nova York. Por isso, o amor entre Ben Gibbon (Diego Boneta) e Mary Rathcart (Alexandra Daddario) está destinado a acabar em tragédia.
O diretor Collin Schiffli recorre a vários recursos visuais para dar ritmo a essa trama. E, também, para aparentar modernidade. Nesse sentido, usa tela dividida (split screen), nomes escritos nas telas, slow motion etc. Porém, com isso, torna a narrativa, no mínimo, confusa. Por exemplo, vemos duas vezes o retrocesso acelerado, e, em nenhuma delas, esse recurso faz sentido. O efeito cria a expectativa de uma revelação surpreendente, mas nada surge na tela.
Como resultado, o filme precisa recorrer a um narrador, externo à história, para explicar o que está acontecendo. No entanto, esse narrador também se torna um estorvo. Na voz de Billy Cudrup, o contador da história logo soa pomposo demais.
Personagens rasos
Além disso, os personagens são todos superficiais. O narrador apresenta Ben como um anarquista, que rouba dos ricos para distribuir aos pobres. Porém, na verdade, ele é um arruaceiro que deserda a herança da família, mas, estranhamente, continua cheio de dinheiro por conta de golpes que ele pratica com seu amigo Mukul (Wade Allain-Marcus). Mas, isso contraria sua faceta Robin Hood, pois ele próprio está usufruindo do produto de seus roubos.
Já Mary foi obrigada pelos pais a estudar na França para ficar longe de Ben – como se o jovem ricaço não tivesse condições de procurá-la nesse país. Porém, quando ela retorna os dois rapidamente estão juntos de novo. Assim, essa linha muito fina da trama não se sustenta. Além de tudo, não entendemos por que os dois jovens endinheirados não fogem de suas famílias, de quem eles não gostam, para consumirem o amor tão forte deles num lugar distante.
Se os protagonistas são fracos, os personagens secundários são ainda piores. Em especial, Terrence (o rapaz contratado pelo pai de Mary para vigiá-la), Mukul (o amigo de Ben) e Wayne (cuja presença o filme não consegue justificar).
Por fim, o epílogo nos faz crer que Entre Tiros e Beijos foi concebido para ser um O Demônio das Onze Horas dos novos tempos. O visual desse trecho final, com o carro conversível, o casal protagonista e a canção francesa (“Stroboscope”, de Julien Belliard) nos passam essa impressão. Porém, em 1965, Jean-Luc Godard foi muito mais moderno e ousado do que Collin Schiffli.
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Ficha técnica:
Entre Tiros e Beijos | Die in a Gunfight | 2021 | EUA | 92 min | Direção: Collin Schiffli | Roteiro: Andrew Barrer, Gabriel Ferrari | Elenco: Diego Boneta, Alexandra Daddario, Justin Chatwin, Wade Allain-Marcus, Billy Crudup, Emmanuelle Chriqui, Travis Fimmel, Nicola Correia-Damude, John Ralston, Michelle Nolden, Stuart Hughes.