O diretor estadunidense Adam Robitel desvia o rumo do sobrenatural que marcou sua carreira até agora. Os dois primeiros longas que dirigiu, A Possessão de Deborah Logan (The Taking, 2014) e Sobrenatural: A Última Chave (The Last Key, 2018) conseguiram aprovação acima da média do público. Com Escape Room, Robitel alcança um novo degrau investindo na ação e aventura, e um pequeno toque de terror.
A trama
Na trama, seis pessoas que não se conhecem recebem convites para participar de um sofisticado escape room, no qual os vencedores ganham 10 mil dólares. Porém, logo percebem que os riscos e danos não são simulações, mas reais. No processo, alternam-se momentos de individualismo e trabalho em equipe, e se revelam como cada participante se comporta em situações de crise.
Esse gancho comportamental tinha tudo para ganhar um desenvolvimento inteligente. Afinal, os jogadores possuem características próprias extremamente distintas entre si. No entanto, Escape Room não escala diferenças sociais que poderiam render uma abordagem paralela mais séria – como em No Tempo das Diligências (Stagecoach, 1939), de John Ford, e Um Barco e Nove Destinos (Lifeboat, 1944), de Alfred Hitchcock. Assim, ao invés do microcosmo da sociedade, os seis jogadores se destacam um do outro por suas habilidades e defeitos.
De qualquer forma, com boa vontade, identificamos alguns representantes de classes, como o jovem rico Jay Ellis (Jay Walker), o alcoólatra Ben Miller (Logan Miller), o gamer Danny Khan (Nick Dodani), a ex-militar Amanda Harper (Deborah Ann Wolf), a superdotada Zoey Davis (Taylor Russell) e o americano médio Mike Nolan (Tyler Labine).
Em momentos esparsos, o filme apresenta instantâneos de lembranças traumáticas de cada jogador, que serão desenvolvidos posteriormente. Aliás, elas constituirão o motivo de eles terem sido escolhidos para o escape room.
Por outro lado, um grande destaque da direção de Adam Robitel é o seu uso do flash forward, pois, quando ele retorna no filme, há uma elipse que poupa o público de rever a cenas que já foi anteriormente desenvolvida. E, no prólogo, desperta a curiosidade do público que quer saber que situação estranha é essa.
Montanha-russa
Mas, o maior trunfo de Escape Room é o estilo montanha-russa de filmes de ação. É como se assistíssemos à sequência inicial de Os Caçadores da Arca Perdida (Raiders of the Lost Ark, 1981) várias vezes, uma atrás da outra. Contudo, a aventura suprime o suspense, deixando o espectador de fora do instigante exercício de desvendar os enigmas. De certa forma, isso frustrará os aficionados por escape rooms que forem ao cinema.
O suspense surge somente na parte final e não o suspense propriamente dito, mas a elucidação do whodunit. Ou seja, revelando quem é o culpado por trás da engenhosa versão do escape room, e os motivos da escolha desses jogadores específicos. Além disso, a parte final traz o toque de terror do filme, na figura desse vilão assustador em uma fábrica abandonada suja e em tons cinza-esverdeados, lembrando Jogos Mortais (Saw, 2004). Na verdade, esse filme de James Wan inspirou a criação dos escape rooms e, agora, o conceito retorna para o cinema.
De fato, sem apelar para a violência extrema, Escape Room está mais para uma montanha-russa do que para uma experiência indoor de mistério e desafio da inteligência.
Ficha técnica:
Escape Room (Escape Room, 2019) África do Sul/EUA. 99 min. Direção: Adam Robitel. Roteiro: Bragi F. Schut, Maria Melnik. Elenco: Deborah Ann Woll, Taylor Russell, Tyler Labine, Logan Miller, Adam Robitel, Nik Dodani, Jay Ellis.
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