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Estou Pensando em Acabar com Tudo (filme)
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Estou pensando em acabar com tudo

Avaliação:
7/10

7/10

Crítica | Ficha técnica

Estou pensando em acabar com tudo expressa os questionamentos que o diretor Charlie Kaufman antecipou nos roteiros de Quero ser John Malkovich (1999) e Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças (2004).

O filme começa com a narração da personagem interpretada por Jessie Buckley, num exercício de epifania logo na primeira cena. As sentenças elaboradas que soam mais apropriadas para a literatura do que para o cinema revelam o exercício reflexivo da protagonista, tema central da estória.

Ela passa por um momento de revelação em que filosofa sobre terminar com as coisas. Isso porque acredita que as pessoas costumam continuar a vida que levam por ser mais fácil. Acabar com as coisas que deixam você insatisfeito seria então um ato mais corajoso.

Fragmentado

O diretor Charlie Kaufman constrói assim seu filme Estou pensando em acabar com tudo com a intenção de refletir essa conclusão da protagonista. Por isso, o longa-metragem é todo fragmentado, levantando várias alternativas de opções de vida para a personagem. Assim, ela possui diferentes nomes, profissões, interesses etc., enquanto expressamente se questiona se deve continuar ou não namorando Jake, interpretado por Jesse Plemons. Jake é o único ponto fixo nessa estória.

E esse questionamento em relação ao namoro fica evidente na visita à casa dos pais de Jake. O filme mostrará os pais em várias situações e idades diversas. Essas imagens ilustram o processo mental da protagonista de Jessie Buckley, que imagina como seria o futuro se continuar com Jake. E, também tenta descobrir como realmente é seu namorado, e faz essa busca criando suposições sobre o passado dele.

O processo continua no trajeto de volta. Enquanto a protagonista continua a coletar argumentos que provam que esse namoro deve acabar, ela continua a mostrar facetas diversificadas – uma delas como uma divertida versão da crítica Pauline Kael comentando sobre o filme Uma Mulher Sob Influência (1974), de John Cassavetes.

Estou pensando em acabar com tudo persiste nesse processo durante a sequência na escola da infância de Jake. Nela, o filme ainda vai além, com trechos musicais e de animação, e uma conclusão que reproduz a cena final de Uma Mente Brilhante (A Beautiful Mind, 2001), que reforça a interpretação de que a protagonista é quem está fantasiando essa e outras alternativas para seu futuro – afinal, no discurso o matemático faz um emocionante tributo à sua mulher.

Interpretações abertas

Nesse tipo de filme, cabem mais de uma interpretação. Ao mesmo tempo que essas facetas diversas da protagonista podem ser alternativas possíveis que a protagonista poderia ter assumido se tivesse feito outras escolhas durante sua vida, elas podem ser também lembranças ou desejos de Jake sobre outras namoradas do passado ou da sua imaginação.

O formato de tela 1.33 : 1, que torna a tela mais quadrada do que o hoje habitual widescreen, contribui no hermetismo do filme, forçando a atenção nos personagens e não no cenário. Os efeitos sonoros, também, estão alinhados nessa intenção, onde os sons do ambiente às vezes até se sobrepõem aos diálogos, que abundam no filme, muitas delas de complexidade literária, mas que não revelam muito sobre os personagens.

Charlie Kaufman é mais celebrado como roteirista do que como diretor. Na direção, esse é seu quarto trabalho, sendo o última a animação Anomalisa (2015), um inteligente exercício sobre um homem que não consegue sentir nada de especial por ninguém. Nesse desenho animado, todos os personagens têm a mesma cara, daí a opção pela animação.

Estética

Em Estou pensando em acabar com tudo, Kaufman novamente faz uso do recurso estético, principalmente na fragmentação e nas várias opções de realidade. Mas se aproxima demais do tom de Mãe! (2017), principalmente na sequência dentro da casa dos pais de Jake. Os enquadramentos, a proximidade com o terror, as surpresas na trama, remetem ao filme de Darren Aronofsky, pelo menos na estética.

E Kaufman exagera na repetição de versões alternativas da protagonista, e, quando atinge a parte final, na escola, o espectador já se sente saturado. E justamente em trechos que dependem da empatia do público com o filme, pois arriscam muito entrando no gênero musical e numa paródia.

A proposta de Estou pensando em acabar com tudo é instigante, dirigida com apuro técnico, mas mal dosada. O convite ao exercício mental do espectador, no entanto, permanece. O filme permite interpretações tão diversas quanto as várias alternativas de vida possíveis para a protagonista. A única certeza, confirmada no último minuto dos créditos finais, é que a protagonista permaneceu na escola durante a noite e não compareceu ao seu compromisso no dia seguinte.


Ficha técnica:

Estou pensando em acabar com tudo (I’m Thinking of Ending Things, 2020) EUA. 134 min. Dir/Rot: Charlie Kaufman. Elenco: Jesse Plemons, Jessie Buckley, Toni Collette, David Thewlis, Guy Boyd, Hadley Robinson, Gus Birney, Aby Quinn, Colby Minifie, Anthony Robert Grasso.

Distribuição: Netflix.

Onde assistir:
Estou Pensando em Acabar com Tudo (filme)
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