O personagem Mike Hammer foi criado por Mickey Spillane em 1947 quando publicou Eu Sou a Lei, que foi primeiro adaptado ao cinema em 1953. Depois, Hammer voltaria para as telas quase uma dezena de vezes, inclusive como série de TV, sendo a versão com o ator Stacy Keach a mais lembrada delas.
O roteiro, aqui, talvez fosse bom, considerando que seu autor é Larry Cohen, diretor de Nasce Um Monstro (1974) e roteirista de Por um Fio (2002), entre outros trabalhos. Porém, o diretor Richard T. Heffron, especialista em televisão, deixou o filme com cara de filme para TV. Isso porque utilizou planos de câmera protocolares e, pior ainda, efeitos especiais de seriados baratos. Com isso, entenda acidentes e explosões de carros com câmera lenta e sem mostrar mortes, artificiais demais. Além disso, conta ainda com uma trilha sonora de jazz fusion que não combina nada com cenas de ação.
A falta de um estilo com mais audácia contraria, inclusive, com o tema mais ousado da trama. Afinal, ela envolve políticos inescrupulosos que recorrem à tortura, e uma clínica para tratamento de distúrbios sexuais que manipula pacientes com tendência a psicopatia. O filme inclui até cenas de orgia, mas tudo bem longe do explícito.
Elenco
Pena que Humphrey Bogart nunca interpretou esse detetive particular durão, típico do film noir. Talvez com Bogart o personagem atingisse um patamar mais elevado no cinema. Dessa forma, não sofreríamos com a escolha de Armand Assante nessa versão de 1982. Para sermos mais contemporâneos, podemos dizer que toda vez que Assante aparece na tela, imaginamos como seria se Al Pacino estivesse em seu lugar.
Se Armand Assante foi uma má escolha, o casting feminino acertou ao escolher Barbara Carrera, como a femme fatale, e Laurene Landon, como Velda, a assistente de Mike Hammer. A nicaraguense Barbara Carrera possui a ambiguidade e sensualidade exigidas pelo papel, e que a levaria a ser uma bond girl em 007 – Nunca Mais Outra Vez no ano seguinte. No caso de Laurene Landon, a atriz funcionou perfeitamente como a belíssima secretária que viraria refém do psicopata da estória, mas teve uma carreira só com trabalhos pequenos, apesar de estar ativa até hoje.
Eu Sou a Lei perde a chance de remeter seu estilo ao film noir, o que seria consistente com o material que lhe deu origem e traria charme à produção. Nem mesmo as típicas narrações em primeira pessoa do detetive entraram no filme.
Com mais ousadia, o diretor Richard T. Heffron poderia ter abraçado o estilo de Brian De Palma, principalmente de Vestida Para Matar, lançado dois anos antes, porque o filme se torna arrepiante todas as vezes em que o psicopata empunha sua lâmina. Quando esse serial killer desaparece da trama, o filme simplesmente se torna aborrecido.
Ficha técnica:
Eu Sou a Lei (I, the Jury. 1982) EUA. 111 min. Dir: Richard T. Heffron. Rot: Larry Cohen. Elenco: Armand Assante, Barbara Carrera, Laurene Landon, Alan King, Geoffrey Lewis, Paul Sorvino, Judson Scott, Barry Snider, Julia Barr, Jessica James, Mary Margaret Amato.