Explosão no Trem-Bala entra no grupo de filmes que não conseguem desenvolver uma boa premissa. Neste caso, não original, pois se trata da refilmagem de O Trem Bala (Shinkansen Daibakuha, 1975), de Jun’ya Satô, realizado dentro da onda de filmes-catástrofes dos anos 70. Para o público internacional, a trama parece uma versão sobre trilhos de Velocidade Máxima (Speed, 1994), de Jan de Bont.
Nesta nova produção da Netflix, a ação acontece no trem-bala Hayabusa nº 60, que parte de Aomori para Tóquio, num trajeto de quatro horas. Porém, logo que a viagem se inicia, uma ligação anônima avisa que há uma bomba no trem que vai detonar se a sua velocidade cair para abaixo de 100 km/h.
O primeiro momento de suspense, este bem aproveitado, surge quando o trem se aproxima da primeira parada. O condutor avisa que o trem vai passar direto pela estação por problemas técnicos. Mas, na central de operações paira a dúvida se o modo automático de redução da velocidade foi efetivamente desativado pela motorista.
Os demais momentos de tensão não são tão efetivos em provocar emoções no espectador. O desvio dos trilhos para que o Hayabusa nº 60 não se choque de frente com outro trem-bala investe mais na ação do que no suspense. A mesma coisa acontece com o trecho em que resolvem desengatar os últimos vagões e resgatar os passageiros com outro trem (solução que os realizadores parecem achar tão brilhante que se esquecem da trama em si).
Opções erradas
O filme erra ao optar por explicar o que está acontecendo através dos diálogos. Por exemplo, um personagem diz que faltam 10 km para a estação, quando isso poderia ser informado de forma mais contundente através de um mapa. Os efeitos especiais e visuais desapontam e tornam os momentos climáticos um tanto artificiais e confusos (no descarrilhamento não dá para entender o que está acontecendo em meio a tantos planos curtíssimos).
No gênero filme-catástrofe, é comum a trama se concentrar em um grupo de personagens em meio a centenas de potenciais vítimas. Em Explosão no Trem-Bala, essa concentração demora para se efetivar – acontece apenas depois que o foco se fecha em nove pessoas que continuam no trem, e naquelas que estão na central de controle (que continuam sendo numerosas). Alguns são claramente usados para começarem como seres detestáveis para depois se redimirem. Já outros são os candidatos a heróis – com o condutor como o principal deles. Mas, nenhum deles possui o poder de ganhar a empatia do público.
Enfim, faltando ainda 50 minutos para terminar, parece que o mistério sobre o culpado já está resolvido. A revelação, aliás, repete o padrão das produções da Netflix, ou seja, aquela necessidade de surpreender com o inesperado. Então, o que resta ao filme é seguir o material original, mostrando os motivos para esse ataque terrorista.
Como filme de ação, Explosão no Trem-Bala, funciona bem. Movimentado, com etapas que representam obstáculos a superar e uma contagem regressiva (o trajeto até Tóquio) o enredo não tem momentos mortos. Porém, o diretor Shinji Higuchi, de Shin Godzilla (Shin Gojira, 2016) abre mão da tensão, ingrediente que faz falta numa história como essa.
___________________________________________
Ficha técnica:
Explosão no Trem-Bala | Shinkansen Daibakuha | 2025 | 134 min. | Japão | Direção: Shinji Higuchi | Roteiro: Kazuhiro Nakagawa, Norichika Oba | Elenco: Tsuyoshi Kusanagi, Kanata Hosoda, Non, Jun Kaname, Machiko Ono, Hana Toyoshima, Daisuke Kuroda, Suzuka Ohgo, Matsuya Onoe, Takumi Saitoh.
Distribuição: Netflix.