O documentário Faye: Entre Luzes e Sombras, produção da HBO disponível na Max, tem a oportunidade de retratar a biografia de uma estrela do cinema ainda viva. Oportunidade e risco, pois a estrela em questão é Faye Dunaway, célebre por seu temperamento difícil e explosões de raiva. Quem leu o livro “Fazendo Filmes” (Making Movies) certamente se lembra do pavor que sentiu o autor (o diretor Sidney Lumet) ao saber que teria que falar com a atriz. De fato, as primeiras linhas do documentário exploram essa fama. Assim, colocam em questão se ela levaria numa boa essa aproximação para contar a sua vida.
O resultado não exclui esse lado sombrio de Faye Dunaway. Porém, produz uma percepção mais favorável sobre ela para quem possui uma ideia preconcebida baseada nessa reputação. Para isso, ela aparece em frente às câmeras. E conta sua própria história, da sua infância até os dias atuais, cobrindo sua vida pessoal e profissional.
Da mesma forma, várias entrevistas que Faye gravou ao longo dos anos surgem no filme, reforçando o tema em discussão. Mas, mais importante que isso, o tarimbado diretor e produtor Laurent Bouzereau conseguiu captar declarações de várias pessoas que providenciam uma perspectiva de 360º sobre a retratada. Entre elas, profissionais que trabalharam com ela, críticos e pesquisadores de cinema, atrizes que a admiram, e membros da família (seu ex-marido e, principalmente, seu filho, que aparece bastante). Tudo muito bem organizado cronologicamente.
Bipolar
O filme traz um efeito positivo à imagem de Faye Dunaway porque na sua segunda metade, mantendo a lógica da cronologia em sua vida, revela que a atriz foi diagnosticada com bipolaridade. Ou seja, aqueles surtos de raiva não eram fruto de estrelismo, mas desse transtorno. Aliás, o clichê do subtítulo nacional já entrega esse diagnóstico.
Juntando tudo, Faye: Entre Luzes e Sombras se sobressai como uma valiosa história do cinema cobrindo da segunda metade da década de 1960 até o fim do século 20, seu período mais fértil criativamente. Além disso, traz lições essenciais para quem quer seguir a carreira de atriz. Faye Dunaway se preparou muito, estudando em livros e em cursos (Elia Kazan foi um dos seus professores), e começou no teatro. O esforço valeu a pena. Esse registro não deixa dúvidas de que Faye foi uma das últimas personalidades do cinema a realmente merecer ser chamada de estrela.
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Ficha técnica:
Faye: Entre Luzes e Sombras | Faye | 2024 | 91 min | Direção: Laurent Bouzereau | Com Faye Dunaway, Mark Harris, Sharon Stone, Robin Morgan, Mickey Rourke, Liam O’Neill, Annette Insdorf, Barry Primus, James Gray, Julie Salamon, Jerry Schatzberg, Rutanya Alda.