O filme franco-belga Carnívoras é um drama consistente que tem uma virada na estória que o transforma num suspense capenga.
Os atores Jérémie Renier e Yannick Renier estreiam em dupla como diretores em Carnívoras. E trabalham sobre um material que conhecem, pois a trama envolve uma atriz em crise.
Na estória, Samia (Zita Hanrot) não consegue lidar com a complexidade do seu personagem no filme de um diretor consagrado, Paul Brozek (Johan Heldenbergh). Então, isso prejudica até o relacionamento com o marido e o filho criança. Por isso, sua irmã mais velha, Mona (Leïla Bekhti), que recentemente passou a morar na casa de Samia, resolve ajudá-la como assistente nessa atuação. Mona também é atriz, mas sua carreira não dá certo.
Porém, o comportamento de Samia se torna cada vez mais descontrolado, até que ela desaparece misteriosamente. Após um ano, ela volta a entrar em contato com Mona. Justo no momento em que esta aprofunda o relacionamento com o marido e filho da irmã. Ademais, quando está prestes a se concretizar uma oportunidade de atuar no próximo filme do diretor Paul Brozek.
Começa como um drama
A primeira parte de Carnívoras se apresenta como um drama consistente. As boas atuações de Leïla Bekhti, de Luta de Classes, e Zita Hanrot, de Fátima, distinguem claramente as personalidades opostas das irmãs. As suas personagens recebem o aprofundamento necessário para convencer o espectador a sentir empatia com Mona e antipatia com Samia.
A segunda parte se beneficia desse antecedente que o filme apresentou para criar uma guinada inesperada na estória e nas personagens. Tanto Mona como Samia podem ser “carnívoras”, no sentido de se aproveitarem dos seus semelhantes para proveito próprio. Porém, o filme deixa todo o suspense que foi construído se perder numa sequência que não deveria estar no filme.
Depois que Mona começa a construir pensamentos sombrios, ela faz um desvio na estrada. E, aparentemente, está decidida a colocar seu plano sinistro em marcha. Aí entra o trecho que atrapalha o filme, porque o que seria um crime frio, acaba se caracterizando como uma reação de defesa num momento de forte emoção. Isso faz toda a diferença, porque alivia a culpa da personagem. Com isso, esvazia o clima que foi criado com o suspense nessa segunda parte de Carnívoras. E afasta a ideia de ser uma predadora, como o título insinua.
Assim, Carnívoras acaba se tornando um drama bem construído com um suspense que fica capenga. Talvez os diretores estreantes não tenham percebido a tempo que uma determinada sequência crucial não funcionava.
Ficha técnica:
Carnívoras (Carnivores, 2018) França/Bélgica. 98 min. Dir: Jérémie Renier, Yannick Renier. Elenco: Leila Bekhti, Zita Hanrot, Bastien Bouillon, John Heldenbergh, Hiam Abbass.
Bonfilm
Trailer:
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