Em meio ao machismo dos anos 1980, quatro mulheres formam a Gangue de Ladras e assaltam o banco da cidade.
Este é o segundo longa-metragem dirigido pela atriz italiana Michela Andreozzi, que aqui faz o pequeno papel da escrivã da delegacia. O roteiro se baseia numa quadrilha que praticou roubos em Avignon, na França. Porém, em Gangue de Ladras, a trama é transferida para a cidade de Gaeta, na região italiana do Lazio.
As protagonistas são quatro amigas fracassadas. Anna precisa trabalhar como empregada doméstica para sustentar sozinha seus dois filhos pequenos. Enquanto isso, Maria é uma dona de casa que apanha do marido. Já Caterina vê cada vez mais distante seu sonho de estudar numa universidade inglesa, pois não consegue juntar o dinheiro suficiente. Por fim, sua irmã Chicca se comporta como uma rebelde, sufocando seu lesbianismo não assumido.
Juntas, elas decidem assaltar o banco local para resolver seus problemas.
Anos 1980
A história se desenrola nos anos 1980, e o filme evidencia que nessa época o preconceito de gênero era muito mais sufocante do que hoje. Por exemplo, quando Anna pede empréstimo no banco, o gerente a assedia sexualmente, deixando claro como os homens viam as mulheres. Além disso, Chicca não se sente confortável para sair do armário, e Maria tem medo de reportar a violência doméstica. Por isso, como amálgama emblemático dessa situação, elas praticam o assalto disfarçadas de homens.
No entanto, esse cenário de injustiça permanece em segundo plano. Gangue de Ladras busca, essencialmente, o seu êxito comercial. Com isso, troca o engajamento por uma abordagem superficial direcionada ao público feminino. Dessa forma, as protagonistas desperdiçam o potencial de serem mulheres fortes e se tornam estereótipos anacrônicos. Afinal, apesar de assaltarem o banco, não conseguem resolver as suas angústias. A única exceção nisso é Caterina, que parte para a Inglaterra.
Alegria exagerada
Além disso, o tom do filme é exageradamente alegre, contrariando o cenário nada favorável que suas protagonistas enfrentam. Extremamente colorido, com planos curtos que tornam o ritmo rápido demais, Gangue de Ladras ainda recheia sua trilha musical com uma seleção de canções felizes. Por exemplo, a canção “Happy Days” (Norman Gimbel/Charles Fox), tema da série com esse nome famosa nos anos 1970.
No seu terço final, Gangue de Ladras melhora, abaixando o tom de alegria forçada para se adequar a um heist movie, subgênero dos filmes de assaltos mirabolantes. Na verdade, aqui os roubos não são espetaculares, mas funcionam e complicam a investigação do inspetor de polícia. E, como costuma acontecer no cinema, a ganância e um descuido arruínam todo o esquema.
Em suma, Gangue de Ladras parece uma produção da época em que acontece sua trama. Ou seja, um daqueles filmes dos anos 1980 feitos para divertir sem compromissos. Na época, eram bem aceitos, mas hoje soam inofensivos demais.
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Ficha técnica:
Gangue de Ladras | Brave Ragazze | 2019 | Itália | 95 min | Direção: Michela Andreozzi | Roteiro: Michela Andreozzi, Alberto Manni | Elenco: Ambra Angiolini , Ilenia Pastorelli , Serena Rossi , Silvia D’Amico, Luca Argentero, Massimiliano Tortora, Stefania Sandrelli, Michela Andreozzi.