Prepare-se para conhecer uma das mais diabólicas personagens do cinema, criada pela roteirista e escritora Gillian Flynn. É dela o livro de 2012 que originou “Garota Exemplar”. O filme é um thriller enigmático surpreendente, que leva o espectador a descer cada vez mais fundo na cruel arquitetura do criminoso.
A trilha sonora de Trent Reznor e Atticus Ross, desde os títulos de abertura, embala o clima sinistro. Imagens pacatas de Nick Dunne (Ben Affleck), na pequena cidade North Carthage, no Missouri, contraposta à música, indicam que acontecimentos sombrios logo surgirão nas telas.
E, de fato isso acontece. Nick, ao retornar para sua casa, encontra-a aberta e com a mesa de centro revirada e quebrada. Logo percebe que sua esposa Amy desapareceu. A partir daí, a história se concentra em desvendar o que aconteceu a Amy, revelando o relacionamento entre o casal e os parentes mais próximos. Mas a detetive Rhonda Boney (Kim Dickens), responsável pelo caso, percebe que Nick apresenta um comportamento um tanto estranho.
A direção e o elenco
A nebulosa investigação é levada para o cinema com habilidade por David Fincher. O diretor de “Seven: Os Sete Pecados Capitais” (Seven, 1995) e “Clube da Luta” (Fight Club, 1999) deixa o espectador ansioso para descobrir o que aconteceu com Amy. Sem ter que recorrer a manobras elaboradas como nesses seus dois filmes citados, Fincher eficazmente inquieta a plateia.
Mesmo após a revelação do mistério, quando a narrativa passa a acompanhar a nova estratégia cruel da personagem, “Garota Exemplar” mantém o suspense. Aliás, até surpreende em sequências que lembram “Instinto Selvagem” (Basic Instinct, 1992) e filmes de Brian de Palma (na cena mais violenta). Intriga a forma como a personagem consegue sair de situações complicadas e bolar estratégias ainda mais engenhosas.
Ben Affleck consegue transmitir o comportamento dúbio de Nick Dunne, não permitindo uma análise simples se é um bom caráter ou não. No entanto, o melhor mesmo é a atuação de Rosamund Pike, no papel de Amy. Embora não muito conhecida pelo grande público – talvez as pessoas se lembrem dela como Andrômeda em “Fúria de Titãs 2” (Wrath of the Titans 2, 2012) – ela alterna imagens de garota certinha e de manipuladora com igual força, construindo uma personagem inesquecível.
