Godzilla e Kong: O Novo Império (Godzilla x Kong: The New Empire) chega aos cinemas num momento ingrato: menos de quatro meses após o avassalador Godzilla Minus One (2023), que elevou a barra de expectativas. E, na comparação, a produção estadunidense perde de lavada.
Não adianta colocar vários monstros titânicos na tela. Godzilla e King Kong já se enfrentaram no filme de 2021 do mesmo diretor Adam Wingard e do qual essa é a sequência. Além deles, outros gigantes símios e criaturas do universo Godzilla entram na estória. Como vilão, está a versão malvada do Kong, emblematicamente num nível de desenvolvimento acima dele, como que para insinuar que quanto mais próximo do humano, pior a índole.
Esse ser malévolo escraviza um titã que cospe raio de gelo e pretende sair da Terra Oca para dominar a superfície onde vivemos. Então, Kong, instruído pelas mensagens telepáticas da menina Jia (Kaylee Hotle), tenta evitar essa catástrofe. Para isso, conta com a ajuda de Mothra e de Godzilla.
A Terra Oca
A ideia dessa Terra Oca pode ser criativa, mas sua materialização na tela enfraquece o filme. Torna o ambiente, criado por efeitos de computação gráfica para lá de artificiais, viajante. Lembra o resultado de A Origem (Inception, 2010), de Christopher Nolan, mas no lugar dos prédios e ruas que se dobram, esse mundo para onde enviaram Kong possui dupla gravidade, ou seja, há uma superfície no chão e outra no teto. Além disso, outro problema desse cenário está na ausência de parâmetro de tamanho. Como tudo lá é gigantesco, perdemos a noção do tamanho enorme de Kong. E essa sempre foi a característica que o tornou impressionante.
Nesse ponto, o Godzilla se beneficia por atuar na superfície, no nosso mundo. Assim, ele aparece andando por cidades famosas, como Roma, onde adormece dentro do Coliseu. Por outro lado, o monstro japonês aparece bem menos no filme. Talvez por favoritismo por conta da produção americana, Kong obtém um protagonismo predominante. É perto dele que transitam na maior parte do tempo os personagens humanos principais Illene Andrews (Rebecca Hall, provando sua versatilidade) e sua filha adotiva Jia.
Essas duas personagens, sérias e bem construídas, contracenam com dois outros que são uma lástima. Bernie Hayes (Brian Tyree Henry), que estava no filme anterior, volta a atormentar com sua chatice. Candidato a youtuber e blogger, ele fica gravando tudo com sua handycam amadora enquanto narra em tom explorativo. Pior que ele é Trapper (Dan Stevens), estreante na franquia. Copiando o Peter Quill vivido por Chris Pratt na franquia Guardiões da Galáxia, Trapper é um herói malandrão que age ouvindo música pop. Bernie Hayes e Trapper deviam ser os alívios cômicos do filme, mas são insuportáveis.
Descaso com os ícones
O diretor Adam Wingard fez pelo menos um bom slasher em sua carreira, Você é o Próximo (You’re Next, 2011). Contudo, no geral, costuma errar. Sua falta de talento fica evidente na sequência de abertura, quando Kong é perseguido na Terra Oca por um bando de animais parecidos com lobos. Ele consegue escapar, mas Wingard dirige tão mal que não dá para entender o que Kong fez para se salvar. Durante o filme, que tem muitas cenas de ação, esse problema volta a acontecer várias vezes. A culpa deve ser compartilhada com a equipe dos efeitos visuais, que fazem barbaridades. Godzilla, perto do final, parece correr como um humano com Kong ao seu lado. Um descaso total com esse monstro icônico.
Godzilla e Kong: O Novo Império só se salva por impor um ritmo intenso. Mesmo que, para isso, mostre os dois monstros principais agindo separadamente, cada um em sua devida camada na Terra. Mas, não espere o forte apelo dramático dos personagens humanos de Godzilla Minus One. Ao invés disso, o filme de Adam Wingard busca a todo instante humanizar Kong (e um baby Kong também), chegando perto do absurdo de fazê-lo esboçar um sorriso. É, o monstro icônico ocidental também sofre o descaso com sua história.
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Ficha técnica:
Godzilla e Kong: O Novo Império | Godzilla x Kong: The New Empire | 2024 | 115 min | EUA | Direção: Adam Wingard | Roteiro: Terry Rossio, Simon Barrett, Jeremy Slater | Elenco: Rebecca Hall, Brian Tyree Henry, Dan Stevens, Kaylee Hottle, Alex Ferns, Fala Chen.
Distribuição: Warner Bros.
Assista ao trailer aqui.