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Poster do filme "Golpe de Sorte em Paris"
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Golpe de Sorte em Paris

Avaliação:
7/10

7/10

Crítica | Ficha técnica

Golpe de Sorte em Paris talvez seja o último filme dirigido por Woody Allen. É o que indica o fato de este cineasta, que completa 89 anos em novembro de 2024, não estar já trabalhando em um novo projeto, como costumava fazer, engatando um filme atrás do outro.

Mesmo com uma longeva carreira, Allen ainda encontra no que inovar – desta vez, pela primeira vez rodando um longa em língua não-inglesa. Ele já filmou na França, e a Europa se tornou há tempos sua solução para conseguir produzir suas obras, diante do desinteresse da indústria estadunidense. E, como todos sabem que o grande público norte-americano detesta filme legendado, a opção de filmar em francês demonstra que Allen não está preocupado em agradar esse tipo de espectador que sequer lê legendas.

Como consequência natural, o elenco principal de Golpe de Sorte em Paris é formado por atores franceses. O que, igualmente, reforça que o diretor não visa a bilheteria de seu país natal, que desconhece os atores principais do filme, Lou de Laâge, Niels Schneider, Melvil Poupaud e Valérie Lemercier. E, nem mesmo o próprio Woody Allen aparece na tela, seja interpretando algum personagem, ou encarnado por outro ator.

Crime e romance 

A trama mistura o romance extraconjugal de Hannah e suas Irmãs (1986) com o crime de O Sonho de Cassandra (2007). Com certeza, cabem outras comparações dentro da filmografia do diretor, mas estas servem para se ter uma ideia do que esperar. No enredo, Fanny (Lou de Laâge) reencontra na rua um ex-colega de escola, Alain (Niels Schreiber), que confessa que sempre foi, e continua, apaixonado por ela. Apesar de Fanny estar casada com o milionário Jean (Melvil Poupaud), após alguns encontros, os dois velhos amigos iniciam um relacionamento.

A estória dá uma guinada na meia hora final, quando o romance dá lugar ao crime. Camille (Valérie Lemercier), mãe de Fanny, ganha um maior protagonismo, ao desconfiar do genro e iniciar uma investigação, colocando-se em perigo. O que se sucede caberia em um filme policial, mas o tom fica menos pesado com o uso do jazz como trilha musical, mantendo a preferência do também músico Woody Allen.

Aliás, há pouca comédia nesse filme. Uma das exceções é uma piada típica do diretor. Jean galanteia a esposa a respeito do vestido dela e lhe pede que use uma joia que ele acaba de lhe presentear. Ela retruca, e diz que não quer ser a “mulher troféu” dele. O marido responde que ninguém pensa isso dela. E, a cena seguinte, mostra o casal entrando na festa e alguns convidados comentando que chegou o ricaço com a sua “mulher troféu”. Outro trecho que carrega a marca Woody Allen traz Camille olhando para o vazio e pensando sobre a possibilidade de seu genro ser um criminoso, em reação ao que ouve na conversa ao redor dela.

Imagem e reflexão

O experiente Vittorio Storaro novamente é o diretor de fotografia, o que tem sido constante nos filmes para o cinema de Woody Allen desde Café Society (2016). Com resultados belíssimos, como era de se esperar, em especial na captação da beleza dos atores em meio às paisagens parisienses. E, além disso, no uso (incomum no cinema de Allen) de lentes grandes angulares, que distorcem as bordas, principalmente nas cenas no pequeno apartamento de Alain. Provavelmente, com a intenção de ilustrar o sentimento de atordoante atração entre Alain e Fanny quando fazem sexo pela primeira vez.

Sob outro aspecto, Woody Allen parece refletir sobre sua vida. Critica a burguesia, talvez não aquela da qual faz parte, mas aquela voltada exclusivamente para o materialismo. O representante dessa classe, no filme, é Jean. Estupidamente rico, com uma fortuna de origem suspeita, vive para as aparências, desde aparentar ser honesto, até o luxo (e a bela esposa) que gosta de exibir aos amigos. É para isso que servem as idas ao campo nos fins de semana, sempre com convidados ao redor, embora Camille não aprecie essas viagens. Entre as atividades fúteis, está a caça, o que faz lembrar de A Regra do Jogo (1939), de Jean Renoir, outro cineasta burguês que criticava a classe à qual pertencia.

Mas, além disso, Woody Allen olha para a sua carreira com um certo desprezo pelo seu sucesso. Ou melhor, pelo próprio talento. Como o título indica, e o destino da personagem Camille reforça, tudo na vida é uma questão de sorte.

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Ficha técnica:

Golpe de Sorte em Paris | Coup de Chance | 2023 | 93 min | EUA, França, Reino Unido | Direção: Woody Allen | Roteiro: Woody Allen | Elenco: Lou de Laâge, Niels Schneider, Melvil Poupaud, Valérie Lemercier, Sara Martins, Samantha Fuller, Anne Loiret.

Distribuição: O2 Play.

Trailer:

Trailer de “Golpe de Sorte em Paris”

Onde assistir:
Cena do filme "Golpe de Sorte em Paris"
Cena do filme "Golpe de Sorte em Paris"
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