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Boa Sorte, Leo Grande (filme)
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Boa Sorte, Leo Grande

Avaliação:
8/10

8/10

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Crítica | Ficha técnica

Sexo e envelhecimento são dois temas que as pessoas ainda precisam entender melhor. Ambos originam tabus, medos, inseguranças. Pois o filme Boa Sorte, Leo Grande (Good Luck to You, Leo Grande) constrói sua trama em cima desses temas com coragem. No entanto, sentimos que sua intenção não é incomodar o espectador, mas sim falar sobre sexo e envelhecimento com franqueza, como todos os adultos deveriam fazer.  

Em seu terceiro longa, a diretora australiana Sophie Hyde leva para as telas o roteiro de Katy Brand, uma artista com longa carreira na televisão, que já teve até seu próprio programa, intitulado Katy Brand’s Big Ass Show. O roteiro parece uma peça de teatro, tendo basicamente dois personagens, um só cenário, e muito diálogo. Mas Sophie Hyde evita a característica teatral, pois coloca a câmera perto dos personagens, e não numa posição de proscênio. Além disso, alterna as tomadas constantemente, e faz uso inteligente dos planos detalhes. Seu esmero na direção está evidente na cena em que a câmera se afasta da personagem Nancy e a vemos solitária no quarto de hotel.

O argumento em si é simples. A viúva Nancy Strokes (Emma Thompson), de 55 anos, contrata um garoto de programa, Leo Grande (Daryl McCormack). Ele a encontra em um quarto de hotel, onde ela logo revela sua inexperiência sexual. Conforme a conversa se desenvolve, ela conta que nunca teve um orgasmo, que seu marido (único homem de sua vida) trepava com ela mecanicamente. Sua insegurança vem também do fato de se considerar velha demais para essa aventura.

Ao longo de quatro encontros, não é apenas Nancy que se desnuda (literalmente também) de seus temores. Leo também tem seus segredos e, finalmente, ele encontra alguém com quem compartilhá-los.

Sexo sem culpa, envelhecimento como processo natural

Os diálogos inteligentes mesclam comédia e drama, colocando na mesa os preconceitos que surgem dessa relação. Assim, Nancy, sem querer, deixa escapar vários deles em relação a Leo por conta do trabalho dele. Chega até a perguntar se ele terminou a educação fundamental. Na verdade, ela está cheia de preconceitos, pois foi professora de um colégio cristão, ou algo do tipo, o que fica evidente quando ela encontra uma garçonete que foi sua aluna. Ou seja, segundo sua formação, sexo estava muito próximo de pecado, o que evidentemente impactou na sua vida pessoal. Seu caso pode parecer extremo, mas essa relação de culpa em relação ao sexo está presente ainda em nossas culturas, daí a importância desse filme em abordar tão abertamente esse tema.

O que ainda sentimos ainda mais forte é a não compreensão sobre o envelhecimento. Nancy se questiona a todo momento sobre a idade dela, se ela deveria estar experimentando coisas novas nesse ponto de sua vida. O filme mostra que esses quatro encontros com Leo Grande foram reveladores também nessa questão. Por isso, a cena perto do final em que ela olha no espelho seu corpo inteiramente nu é emblemática para evidenciar que ela agora pode encarar esse processo com naturalidade.

Atuações

Emma Thompson está sublime num papel que exige coragem. Não só por essa nudez completa, mas principalmente por escancarar neuras de uma personagem que é até (uns dez anos) mais nova que ela. Embora o nome verdadeiro da personagem seja Mrs. Robinson, ela é o oposto do vulcão de sensualidade de Anne Bancroft em A Primeira Noite de um Homem (The Graduate, 1967). Sutilmente, Emma Thompson consegue mostrar a superação dos bloqueios da Nancy do primeiro encontro até o último. Aliás, a atriz merece muitos prêmios por essa interpretação.

Daryl McCormack também realiza um trabalho elogiável, indo muito além de uma mera beleza masculina. E é um papel que exige muito, pois o tom dos muitos diálogos deve ser adequado, para não cair na comédia escrachada nem, por outro lado, no melodrama. Caso você esteja se esforçando para se lembrar onde viu esse ator antes, então, vai a dica: ele fez o Isaiah Jesus na primeira e nas temporadas de 2019 e 2022.

Por fim, vale apontar que a cultura é essencial na transformação das pessoas. Assim, que venham mais obras corajosas como Boa Sorte, Leo Grande para que aprendemos mais sobre como lidar com o sexo e o envelhecimento.


Boa Sorte, Leo Grande (filme)
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