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Diário de Gramado | dias 7, 8 e 9 | por Sérgio Alpendre

Cena do filme "Infinimundo"

De nada adianta pedirem no palco para as pessoas desligarem o celular, falarem que a claridade atrapalha as outras pessoas e tal. As inúmeras pessoas que entram atrasadas, sei lá por que e para quê, pois em geral elas demonstram não haver qualquer preocupação com o filme em si, logo que sentam já começam a checar as timelines das redes sociais. E algumas que ouviram o aviso também.

Não é o streaming que vai matar o cinema, embora o streaming faça uma força tremenda para isso. É o vício nas redes sociais, que faz com que o filme seja apenas mais uma coisa a distrair o espectador em sua poltrona na sala de cinema. Aqui em Gramado tem outro fator: status. Pessoas ricas e meio burrinhas se sentem importantes entrando numa sessão noturna em Gramado. Não importa se faltam 15 minutos para a sessão acabar. Ver o filme é o que menos importa.

Dia 7

O quarto filme dos cinco da competitiva gaúcha é uma declaração de amor ao teatro que acaba virando um melodrama bergmaniano de crise no relacionamento e separação. O nome do filme é Um Corpo Só, dirigido por Carlos Nazário. Mostra o grupo teatral Ói Nóis Aqui Traveiz, bem cultuado em Porto Alegre, e seu líder Paulo Flores, além de sua companheira de muitos anos, Tania Farias. A ideia é clara: a arte está sempre ameaçada pelo fascismo presente em nossa sociedade, que não aceita o diferente ou a provocação.

Na sessão noturna, o último concorrente ao prêmio principal manteve o nível mediano dos selecionados. Barba Ensopada de Sangue, que Aly Muritiba dirigiu a partir de um livro de Daniel Galera, até chega a provocar algum interesse pela trama, mas a realização peca por um certo academicismo, com o espaço em scope mal aproveitado pelos fundos desfocados e atuações desiguais.

Dia 8

Filme único no dia: Infinimundo, de Bruno Martins e Diego Müller, encerrando a competitiva gaúcha. É o mais fraco entre os cinco longas apresentados. Uma fábula romântico-musical que vai razoavelmente simpática até a metade, cansando um pouco no final, porque se torna meio boba, sem me emocionar (ao contrário das muitas pessoas que aplaudiram com entusiasmo, mesmo aquelas que passaram o filme no celular).

O calor no Palácio dos Festivais e a certeza de que teria muita gente na sessão me fez desistir de ver Virgínia e Adelaide, o novo longa de Jorge Furtado, codirigido por Yasmin Thayná. Verei em condições mais favoráveis, e com menos celulares ligados, assim que possível.

Impressões finais

Depois do que aconteceu no Rio Grande do Sul em maio, foi um milagre o festival ter acontecido. E justamente neste ano em que foi tudo mais improvisado e caótico, como alguém bem lembrou num desses encontros que acontecem durante os trajetos hotel-central-sala de cinema, tivemos uma pontualidade exemplar, fazendo com que as sessões não atrasassem. Só a apresentação interminável do longa Filhos do Mangue incomodou, prejudicando o próprio filme. De resto, a organização está de parabéns. Foi muito bom ver as sessões começando sempre no horário marcado.

Para encerrar, segue a lista de todos os longas vistos em Gramado, em ordem decrescente de preferência:

  • Oeste Outra Vez
  • A Transformação de Canuto
  • Até que a Música Pare
  • Um Corpo Só
  • Memórias de um Esclerosado
  • Cidade; Campo 
  • Motel Destino
  • Infinimundo
  • Filhos do Mangue
  • Pasárgada
  • Barba Ensopada de Sangue
  • Clube das Mulheres de Negócio
  • Estômago 2

Texto escrito pelo crítico e professor de cinema Sérgio Alpendre, especialmente para o Leitura Fílmica.

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