Happy Old Year (filme)
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Happy Old Year

Avaliação:
10/10

10/10

Crítica | Ficha técnica

Um conceito como o minimalismo produz implicações muito profundas quando individualizada. Assim demonstra a tocante comédia dramática Happy Old Year, do diretor tailandês Nawapol Thamrongrattanarit, de Mary Is Happy, Mary Is Happy (2013).  

A primeira parte de Happy Old Year mostra o passo-a-passo da implantação do minimalismo na vida de Jean. A jovem passou três anos em Estocolmo e voltou com essa ideia na cabeça. Cada etapa do processo surge na tela em capítulos segmentados, que revelam a lição a ser praticada e como, na realidade, Jean sofre para executar. Um desses passos é convencer a família, no caso, o irmão e a mãe. O irmão logo abraça a ideia, e até começa a assistir vídeos da consultora especialista no assunto Marie Kondo. Mas, a mãe está presa às lembranças que os objetos trazem de seu marido, que abandonou os três.

Para Jean, o sentimentalismo também surge como obstáculo para se livrar de suas coisas. Primeiro, quando tenta jogar, e depois devolver, um CD que sua melhor amiga Pink lhe presenteou. Depois, em relação ao seu ex-namorado Aim, de quem nem se despediu quando partiu para a Suécia.

Da comédia ao drama

Enquanto segue os passos do minimalismo, predomina o tom da comédia. Mas, logo o processo se revela doloroso. O mandamento diz para não ser sentimental demais com os objetos, porém, esse bloqueio pode levar ao frio endurecimento de uma pessoa. É o que está acontecendo com Jean, como ela mesmo descobre em embates com sua mãe e com Aim. Curiosamente, Jean pede que sua mãe esqueça do marido que a abandou e siga em frente, enquanto a própria protagonista se vê novamente na companhia do ex-namorado, que agora já tem outro relacionamento. Com isso, o filme não procura respostas fáceis, não há certo ou errado, o que retrata fielmente o que acontece nas vidas das pessoas.

Ao mergulhar nesse campo dramático, Happy Old Year abandona a brincadeira do passo-a-passo do minimalismo. Afinal, esse artificialismo não combinaria com a abordagem profunda nos dilemas da sua protagonista. Pelo contrário, o diretor Nawapol passa a privilegiar sequências longas e planos com poucos cortes, com aproximações lentas da câmera até conseguir o close-up da personagem. Dessa forma, obtém uma irresistível sensibilidade quando expõe o sofrimento de Jean por causa do abandono do pai. Não precisamos nem ouvir o que o pai de Jean lhe diz ao telefone, pois pela sua expressão e pela composição do espaço e tempo dessa cena, entendemos que o pai não dá a mínima para a família que abandonou. Essa momento sublime descamba no choro copioso da protagonista, que nos revela que, para ela, tornar-se insensível seria uma forma de driblar essa tristeza.

Nawapol Thamrongrattanarit

Aliás, a direção talentosa de Nawapol marca presença em todo o filme. Por exemplo, a despedida entre Jean e Mi (a nova namorada de Aim) possui uma intensidade tão forte que só um diretor de alto quilate poderia obter. E evidencia que, mesmo os personagens secundários merecem aprofundamento. Por fim, ao olhar diretamente para a câmera na conclusão, Jean compartilha com o espectador sua resolução de seguir em frente, deixando no passado o que não é mais essencial em sua vida. Contudo, sem ser insensível e sofrendo as dores do processo.

Assim, Happy Old Year é um drama urbano e atual, muito diferente de Tio Boonmee, Que Pode Recordar Suas Vidas Passadas (2010), de Apichatpong Weerasethakul, referência do cinema tailandês para muitos. O drama de Jean toca com naturalidade os sentimentos do público de qualquer parte do mundo, servindo até como uma ponte entre os estilos de vida oriental e ocidental, ou, não respectivamente, espiritual e material.  

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Ficha técnica:

Happy Old Year | How to ting ting yang rai mai hai leua ter | 2019 | Tailândia | 113 min | Direção e roteiro: Nawapol Thamrongrattanarit | Elenco: Chutimon Chuengcharoensukying, Sunny Suwanmethanont, Sarika Sartsilpsupa, Thirawat Ngosawang, Apasiri Chantrasmi, Patcha Kitchaicharoen.

Onde assistir "Happy Old Year":
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