A diretora Mimi Cave repete em Holland o resultado que obteve em seu filme de estreia, Fresh (2022). Ou seja, constrói um suspense envolvente, mas se perde com um desfecho muito fraco.
Visualmente, Mimi Cave demonstra muito talento. Desta vez, ao apresentar os personagens principais e situar a história, utiliza cores saturadas que, junto com o tratamento patriarcal de Fred (Matthew Macfadyen) sobre sua esposa Nancy (Nicole Kidman), remetem aos anos 1950 na sociedade americana do pós-guerra que enfatizavam o materialismo e a dona-de-casa perfeita. Porém, quando Fred parte para uma viagem de negócios e o filho deles, Harry (Jude Hill), passa a noite na casa de um amigo, Nancy aluga o VHS de Uma Babá Quase Perfeita (Mrs. Doubtfire, 1993) para ver em casa. Portanto, a trama se passa por volta de 1995.
Ainda no aspecto formal, Holland chama a atenção pelas transições rebuscadas entre cenas, não para produzir significados como na montagem de Eisenstein, mas para conexões visuais. Por exemplo, um personagem encerra uma cena prestes a ligar sua lanterna, e a cena seguinte se abre com o farol aceso de um carro. A criatividade de Mimi Cave em criar imagens bombásticas chega ao clímax nos trechos de pesadelos, que são muito loucos. Destacam-se também as cenas que fazem a câmera passear pela miniatura de uma cidade onde Fred e Harry brincam de modelismo com seus trens, e que ganham espelhamento nos momentos em que situações reais são filmadas como miniaturas.
Roteiro que não sabe terminar
O roteiro do estreante Andrew Sodroski, no entanto, atrapalha a direção de Mimi Cave. Cai no típico erro do bom material que não sabe como concluir. No episódio inicial com a participação de Rachel Sennot, Nancy demite sua babá por suspeitar que ela roubou um de seus brincos. O evento representa o gatilho que desperta em Nancy sua predisposição para bancar a detetive. Na verdade, ela é péssima nisso. Primeiro, porque seu amigo Dave Delgado (Gael García Bernal) já alerta que a babá não teria motivos para roubar só um brinco e não o par. Segundo, porque um crime muito maior acontece próximo dela e ela nem percebe.
De fato, o suposto instinto nato dela a conduz a outra investigação. Com a ajuda de Dave, ela quer encontrar provas de que o marido a está traindo nessas viagens a trabalho. O que, por ironia, acaba levando à infidelidade da própria Nancy.
Como se pode vislumbrar nessa pequena sinopse, há um toque de humor sombrio nessa trama, que Mimi Cave parece abraçar a contragosto, porque não faz questão de enfatizar. A trilha musical é típica do gênero suspense, e os melhores momentos de Holland são mesmo de suspense. A produção não é da A24, mas parece seguir as intenções dessa empresa de lançar filmes modernos que apostam na estranheza e rechaçam o cinema clássico. Vem daí esse humor e o final supostamente surpreendente, bem como a inserção de um tema político (o preconceito contra o mexicano, que não é devidamente explorado aqui).
Rechaçando o suspense clássico
Porém, o filme seria mais forte seguindo o suspense hitchcockiano. Isso fica evidente nas situações clássicas de suspense, como aquela em que Nancy invade o consultório do marido oftalmologista, e ele recebe uma chamada para ir ao local fazer um atendimento emergencial. E o roteiro possui elementos suficientes para ser um thriller arrepiante, como a relação macabra entre as miniaturas e os crimes. Mas, tudo azeda após a revelação bombástica dos crimes.
Ipso facto (como Nancy diz em certo momento), Holland perde a oportunidade de ser um ótimo suspense clássico por sua intenção de soar moderno. O agravante, para Mimi Cave, é que ela repete o mesmo erro de sua estreia.
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Ficha técnica:
Holland | 2025 | 110 min. | EUA | Direção: Mimi Cave | Roteiro: Andrew Sodroski | Elenco: Nicole Kidman, Gael García Bernal, Matthew Macfadyen, Jude Hill, Jeff Pope, Isaac Krasner, Lennon Parham, Rachel Sennott.