Homem com H

Título original: Homem com H

Ano de lançamento: 2025

Data de estreia no Brasil: 01/05/2025

Direção: Esmir Filho

Gênero:

Mais informações na ficha técnica abaixo do texto

Avaliação: 4,5/10

Mais uma cinebiografia brasileira de um ídolo musical chega às telas. Dirigido e escrito por Esmir Filho, Homem com H desanima por sua falta de originalidade – justamente uma das forças do artista retratado da vez, Ney Matogrosso. O filme segue o processo básico de contar a vida do protagonista em ordem cronológica, começando na infância em 1949. Mas, como se trata de uma carreira que começou no início dos anos 1970 e ainda continua ativa, o resultado é um filme longuíssimo, e que parece interminável depois dos ousados anos iniciais.

O maior conflito pessoal de Ney (Jesuíta Barbosa), sua atribulada relação com o pai militar, intolerante e agressivo, permeia todo o enredo. Porém, num arco sem surpresas e repleta de cenas apelativas. Logo na primeira sequência, o menino Ney apanha do pai que o deixa apenas de cueca aos olhos dos vizinhos. Aos 18, Ney é expulso de casa e, por ironia, ingressa na aeronáutica. Nesse trecho, entra uma cena com Ney e outros rapazes do pelotão, todos com o torso nu, lembrando Bom Trabalho (1999), de Claire Denis. Mas, a abordagem discreta da relação de Ney com seu namorado causa estranheza – inclusive porque depois seu relacionamento com homens ganha uma visibilidade muito mais ousada.

A narrativa ganha força quando começa a carreira musical de Ney Matogrosso. A descoberta de sua vocação para cantar e para assumir o centro das atenções sem poupar escândalos transcorre como a magia de Fantasia (1940). Ou seja, uma vez iniciado, não tem como parar. Todo seu talento natural explode ao formar a banda de rock Secos & Molhados, musicalmente sua fase mais rica. O voo solo imediatamente subsequente mantém a inspiração em alta.

Vida, Vida

No entanto, daí para frente o filme começa a degringolar. Um divisor de águas pode ser o anúncio de que Ney está sem dinheiro, porque um show seu deu prejuízo, fato não bem explicado, e difícil de compreender porque se sucede à cena de uma coletiva de imprensa muito disputada. Nessa época, Ney muda seu estilo. Os trechos musicais começam a soar longos demais e algumas cenas simplesmente não funcionam. Por exemplo, o suspense com Ney se recusando a gravar uma canção, escondendo qual é, até ela tocar – evidentemente, se trata de um dos seus maiores sucessos.

O retrato no filme dos casos amorosos de Ney é bem cansativo. Com Cazuza, Ney fica careta e possessivo, sem que a trama explique o motivo de ele agir assim, com esse comportamento que ele mesmo repudiou quando estava com seu namorado mais velho antes de se tornar músico. Como agravante, o público precisa se esforçar para ver o Cazuza na interpretação de Jullio Reis. O outro namorado, Marco de Maria (Bruno Montaleone), entra no filme de maneira desleixada – tanto Ney quanto Cazuza elogiam as suas pernas, mas a câmera não mostra esse atributo (ou mostra, mas não convence). Esses dois amores levam às esperadas tragédias causadas pela AIDS, momentos constrangedores no filme que fazem o público pensar por quanto tempo mais a trama vai se alongar.

Recorte

Algumas montagens espertas elevam Homem com H. Entre elas, a colagem com vários parceiros se alternando na mesma dança com Ney, uma forma concisa e inteligente de mostrar essa fase mais depravada do artista. O filme também acerta na decisão de usar a voz de Ney Matogrosso nas partes musicadas. Afinal, não faria sentido Jesuíta Barbosa tentar imitá-lo se um dos personagens afirma que a voz de Ney é única (na cena do coral).

Mas, outros problemas afetam o longa. Como as várias piadas com o pai militar, bem óbvias, mas com uma aliviada para torná-lo mais simpático porque ele pediu para ir para a reserva quando a ditadura apertou. Essa aliviada serve para o fechamento desse arco dramático na tardia conciliação. Ainda sobre a ditadura, brincadeiras incluem a troça com os censores que são facilmente enrolados, dando a incômoda impressão de que os realizadores querem indicar que a repressão do governo militar foi menos séria e perigosa do que foi.

E, em muitos trechos, o personagem precisa explicar falando, ao invés de mostrar através de imagens. Por exemplo, nas primeiras conversas de Ney com Marco, e com a mãe quando o pai está doente. Tais deslizes, enfim, derivam da falta de um recorte mais restritivo para essa cinebiografia. Se um livro não cabe num filme, uma vida muito menos. Homem com H carece da escolha acertada que fizeram Lô Politi e Dandara Ferreira ao apresentar Gal Costa em Meu Nome é Gal concentrando-se na sua fase mais essencial.

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Ficha técnica:

Homem com H | 2025 | 130 min. | Brasil | Direção: Esmir Filho | Roteiro: Esmir Filho | Elenco: Jesuíta Barbosa, Jullio Reis, Bruno Montaleone, Rômulo Braga, Hermila Guedes, Mauro Soares, Jeff Lyrio, Danilo Grangheia, Augusto Trainotti, Bela Leindecker, Caroline Abras, Lara Tremouroux, Céu, Sarah Oliveira.

Distribuição: Paris Filmes.

Trailer:

Onde assistir:
Jesuíta Barbosa e Caroline Abras em "Homem com H" (divulgação / créd: Marina Vancini))

Outras críticas:

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